quarta-feira, 10 de maio de 2023

Silêncio

Hoje eu decidi me calar, ou melhor, a minha voz me calou por mim – engraçado que, em dois dias, farei 29 anos e eu estou em um momento de introspecção, sem vontade de comemorar esse ano; foi quase como se meu corpo tivesse entendido o recado e falado: “Pode deixar, vou te deixar uns diazinhos sem voz e de cama.”. Sou grata por isso, então.

Geralmente em épocas de aniversários eu fico nostálgica, acho que todos ficamos, não? Mas esse ano parece que a coisa tá pegando firme aqui dentro. Porque foi um processo tão visível (para mim mesma, pelo menos) de transformação, dentro desses poucos anos que se deram dos 20 para cá, que hoje eu não reconheço aquela menina que eu fui.

Só que eu também sinto saudades dela – não por inteira, mas de alguns aspectos dela. Da doçura, misturada com loucura e inconsequência. Ela sentia tudo à flor da pele, eu não. Ela chorava, sentia raivas desmedidas e tristezas insuportáveis, eu não. Entretanto, ela não era tão feliz; hoje eu tenho crises de ansiedade de tanta alegria – chega a ser triste que minha alegria me desencadeie essa resposta, mas é a mais pura verdade, no fim das contas eu dou risada e abraço essa alegria.

Eu sinto falta das palavras dela na minha cabeça, da facilidade que ela tinha em fazer um texto incrível do absoluto nada, ela acordava no meio da noite com ideias de textos e os fazia em um piscar de olhos! Agora, além de eu demorar meses para conseguir ter a ideia de algum texto, quando os releio ao final da produção, sinto que estão todos meia boca – fazer o quê? Vai ver perdi o jeito da coisa, quando aquela loucura foi embora deve ter levado as inspirações junto.

Mas não me sinto mais tão triste em não escrever tanto. Em algum momento, há muitos anos, aquela menina me falou o seguinte: “Você não precisa escrever tudo, pois tudo já está escrito.”. E eu fiquei em paz com isso. Não é meu papel fazer descobertas revolucionárias ou escrever os textos mais incríveis a serem lidos, eu posso me aposentar ou então continuar de forma medíocre, fica a meu critério.

Como as escritas sempre foram mais para mim do que para você – que me acompanhou aqui por tantos anos e hoje já nem lembra que eu escrevia – eu sigo escrevendo, de tempos em tempos, com a qualidade cada vez mais duvidosa, agradecendo aquela menina de 20 anos por ter me trazido até aqui de uma forma tão intensa e pura – para ela, todo o meu amor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Rato na roda

Querendo voltar para uma jornada fitness, enquanto estava na academia, pensei que tudo na nossa vida é um ciclo de repetições, quase como se fôssemos o rato na roda: acordar, comer, trabalhar, se movimentar, cuidar de si, dormir, e repetir, dia após dia.

Quase como se estivéssemos ensaiando para uma apresentação de ballet, onde ficamos repetindo os movimentos metodicamente, para atingir a perfeição. Ensaios, dia após dia, para uma execução de maestria.

Lembrei que fazia muito tempo que não escrevia, me perguntei: será que ainda levo jeito pra isso? E conclui que, possivelmente, não. Esse músculo está enferrujado. Enquanto, anos atrás, tudo me trazia motivos para escrever, hoje tenho dificuldade em organizar um pensamento.

Então, quer dizer que para que sejamos bons em qualquer coisa que seja, precisamos nos permitir estar naquela roda: repete e repete. Quando nos damos por vencidos por alguma coisa e deixamos aquilo de lado, possivelmente essa engrenagem ficará enferrujada e cairá em desuso.

Mas, qual o sentido, então, de fazer tudo para depois fazer de novo e de novo? Bom, essa resposta eu não posso te trazer com certeza. Mas arrisco em dizer que provavelmente é para que possamos melhorar e evoluir sempre.

A vida se dá pelo movimento, a evolução ser dá pela execução. E quanto mais fazemos alguma coisa, dia após dia, semana a pós semana, mês após mês, ano após ano, mais estaremos adaptados para executar aquela tarefa com maestria, com naturalidade e familiaridade.

No mais, dentro desse ciclo de repetições, podemos nos permitir admirar toda e qualquer mudança, singela, mas significativa, pois são essas pequenas nuances que nos mostram que, de fato, não faz parte de um repetir, mas sim de um viver o novo constantemente. Mesmas ações, mas nem sempre o mesmo resultado, muito pelo contrário: a cada dia a vida se mostra a nós como um presente a ser desembrulhado e admirado, nos seus menores detalhes.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Behavorista desde criança

Costumo brincar, dizendo que sou Behavorista desde criança, mas percebo o quanto de verdade existe nisso. Lembro que, desde muito nova, sempre gostei de reparar nas pessoas ao meu redor, no comportamento delas, na interação entre elas. Sou uma pessoa extremamente extrovertida, porém, às vezes gosto de ficar de canto, observando.

Quando adolescente, reparava nas pessoas na rua, morria de medo de acabar sendo mal interpretada e que alguém viesse discutir comigo, ou que gritassem: “Tá olhando o que?”. Já imaginava minha possível resposta: “Estou olhando, porque te achei bonito(a).”, só pra ver a pessoa ficar sem graça e, também, poder alegrar o dia de alguém, mas isso nunca aconteceu (ainda bem).

Mais velha, saindo para bares e baladas com meus amigos, sempre me percebia olhando meus amigos, admirada, enquanto eles interagiam entre si; olhando para as pessoas dançando, flertando, conversando. A sensação de ser expectadora e de ficar me perguntando porque cada um age e reage de tal forma diante de cada situação, sempre foi meu passatempo favorito.

Muito se sabe que somos seres sociais, que precisamos de pessoas para viver bem, que passamos grande parte dos nossos dias pensando sobre outros seres humanos. Além de pensar sobre pessoas, sempre pensei no comportamento delas; sempre tive curiosidade de perguntar o que se passa na cabeça de pessoas que vejo na rua, algumas alegres, outras mal humoradas.

Meu grande amor é também meu objeto de estudo, agora. Sou fascinada pelo ser humano e mais ainda pelas suas maneiras de se comportar, por isso afirmo: eu já era Behavorista antes de ser; já era analista do comportamento desde antes mesmo sonhar que a Psicologia existia e que ela me encontraria. Meu amor pelo Behavorismo chegou logo no primeiro semestre, me encontrei com a pessoa que eu estava predestinada a vir a ser.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Felicidade solo

Eu passei o final de semana mais incrível da minha vida, esse texto será apenas um lembrete para o meu eu do futuro: você merece ser feliz! Você merece estar rodeada de pessoas que te amam e te querem bem! Deixe qualquer um que fuja disso ir embora; dói, no começo, mas depois é libertador.

Sexta-feira viajei com uns amigos até Praia Grande, ficamos até hoje, domingo. Quase não fui, pois segunda apresento meu TCC, mas me dei ao luxo de aproveitar também outras coisas da vida, além de que, o mar é o meu melhor lugar do mundo.

Sábado a tarde, recebi a mensagem mais linda e importante dos últimos seis anos: uma proposta de emprego como Psicóloga! Com direito a um documento que comprova que a única coisa que falta para eu começar a trabalhar é meu CRP, para que a faculdade e o Conselho adiantem o processo.

Hoje, quase não peguei no celular para conversar com ninguém. Não devo satisfação para ninguém e ninguém me deve nada. Por toda minha vida eu acreditei que isso era solidão, hoje eu percebi a beleza da solitude.

Estou solteira há sete meses, há uns seis passo pelo processo de autoconhecimento e, até então, ainda não tinha colhido nenhum fruto, porque se conhecer e trabalhar em si mesma dá um trabalho absurdo, mas hoje, além de estar em paz em estar sozinha, eu tenho orgulho da pessoa que estou me tornando.

Não fico mais com alguém fixo no meu pensamento o dia inteiro, não me preocupo em agir de acordo como alguém gostaria que eu agisse, não me preocupo com minhas amizades, meu jeito, meu comportamento, não penso se nada disso vai desagradar alguém em específico, além de mim mesma.

Eu me tornei, além do grande amor da minha vida e meu maior projeto, que vou levar a vida construindo, como também a minha melhor amiga. Vou lutar por mim com unhas e dentes para nunca mais deixar alguém me tirar dessa paz que eu estou lutando para me colocar.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O último dia

Acabei de voltar da faculdade, pela última vez, enquanto aluna, daqui cinco dias apresentarei meu TCC remotamente e, então, só retorno para buscar meu certificado de conclusão de curso. Ao sair de lá, passei pelo estacionamento devagar enquanto admirava o prédio e deixava o turbilhão de emoções invadir meu corpo, no caminho pra casa fui invadida com milhares de lembranças desses cinco anos e meio de percurso.

Durante esse semestre, brinquei com meus colegas de curso e amigos mais íntimos falando que não estava preparada para sair do posto de estudante de psicologia para tomar o de psicóloga e, é uma mudança drástica, mas que, de fato, foi acontecendo aos poucos, com o passar da graduação. O que eu não havia pensado, até agora, era sobre o caminho percorrido e hoje todas essas lembranças me fizeram sentir algo completamente inédito, único na minha vida, até então.

Descrevi ao meu amigo como: “Uma nostalgia, mas é uma mistura de alegria com tristeza e orgulho; muito feliz, mas muito aperto no coração.”. Dá pra perceber o quão difícil está sendo processar todos esses sentimentos. A alegria de chegar ao final de um curso difícil e de duração tão longa; a tristeza de parar de estudar aquilo que, por tantos anos, foi meu foco principal; orgulho por ter conseguido, não só entrar, mas permanecer até o fim; a felicidade em imaginar as possibilidades e próximos passos; o aperto no coração de não ter mais essa atividade na minha rotina.

Meu amigo me respondeu com uma percepção muito inteligente: “É quase como uma Síndrome de Estocolmo se você parar pra pensar, né? É um lugar que você vai pra sofrer tanto, pra ter que entregar tanta coisa, mas a hora que você não pertence mais àquele ambiente, você sente falta.”. É exatamente isso. Aquele lugar me roubou de mim e me transformou, a pessoa que entrou naquele prédio há quase seis anos definitivamente não existe mais; hoje, quem saiu dali foi completamente outra.

Além de todos esses pensamentos subjetivos, as lembranças das transformações físicas e do quanto minha vida mudou ao longo dessa caminhada me faz sorrir mais uma vez, ao olhar para trás e perceber que eu entrei ali, ainda uma menina, apesar dos 20 anos, mas que saio uma mulher. Namorei, noivei, morei junto, separei, me mudei de cidade, me mudei até de país. Fui pra faculdade de ônibus, com a minha primeira moto, de carro emprestado, com a segunda moto, com o meu carro. Estudei de manhã, de noite, de manhã, de noite... Incansáveis trocas de horário porque eu trabalhava em shopping e precisava adequar a faculdade ao emprego.

Quantos trabalhos e relatórios foram preparados no meu horário de almoço ou então no computador do trabalho, meio que por debaixo dos panos, enquanto eu fazia malabarismo entre trabalhar, estudar e ter, um mínimo possível, de vida social. Quantos livros eu comprei e ainda não li porque não estavam na bibliografia do curso. Anos abrindo mão de tanta coisa, muitas vezes de mim mesma. Finais doem, mas olhar para trás e lembrar dos motivos que me trouxeram até aqui, da força, persistência e constância que precisei ter para chegar onde cheguei, me dá a certeza, pela milésima vez, de que tomei o caminho certo.