sábado, 13 de março de 2021

Escrever

Escrevo textos. Apago. Reescrevo. Apago de novo. Sigo pensando no tema que quero escrever por dias. No primeiro dia, dentro da minha cabeça, o texto segue perfeito, original, intacto. Eu não faço o esboço. Perco o corpo do texto, a ideia central, ele vai se desfazendo pouco a pouco dentro da minha cabeça e morre em anonimato, prematuro, sem chance de salvação.

Eu adio a ideia de escrever. Por uma semana, por um mês, por seis meses, por quase um ano. A ânsia de escrever vem me invadir dia após dia. Eu leio instead. Assisto séries, vou estudar ou fazer qualquer outra coisa, mas o tema praticamente perdido e a necessidade compulsiva de escrever ficam ali, de canto de olho eu enxergo, mas não identifico o que é.

Abro o documento e penso: “Vou escrever, ponto. Independente do assunto, mesmo que eu não me reconheça ou coloque palavras em inglês no meio; essa sou eu, essa necessidade é minha e eu preciso supri-la.”. Certa vez li que “a prática leva à perfeição” e eu, perfeccionista ansiosa (in)curável que sou, debati com a voz da minha cabeça dizendo que essa frase está, de fato, correta.

Afinal, reli meus textos algumas vezes. Dezenas deles estão bons, uns cinco, talvez, tão bons que eu não reconheço naquela escrita minha própria capacidade de ter feito aquilo, mas também tem alguns que eu penso: “Nossa, eu reescreveria sobre esse tema para fazer jus a ele, a ideia é boa, mas o texto não ficou bem construído.”. Veja só, o próprio exemplo de que a pratica pode levar à perfeição, bem na minha frente.

Sinto vontade de fechar o documento. A voz da perfeição inatingível tomando forma em minha mente: “Escrever sobre escrever? Mais do mesmo. Não tá bom.” E ok, pode realmente não estar, olha a data do último texto postado aqui e me fala que se isso fosse um corpo em construção na academia ele não já teria perdido todos os músculos adquiridos.

Não vou fechar o documento, quero postar um texto novo desde que fazia três meses do último, agora faz dez. E dia após dia, semana após semana, aquele incômodo que eu consigo enxergar de canto de olho me faz sentir a vontade de voltar a escrever, pelo menos, uma vez por mês, para então poder criar metas mais ousadas. E esse aqui é meu primeiro passo.

Aquele texto que nasceu e morreu sem que ninguém pudesse ter lido, sem que eu mesma pudesse tê-lo escrito merece que eu me dedique a essa prática, afinal, como já sabemos, escrever compõe quem eu sou e o que eu poderia fazer nessa existência, se não me dedicar a me tornar eu mesma?