quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Formas de amar


Muitos dizem que só se ama uma vez, outros dizem que o amor está em tudo. Eu concordo com o segundo grupo. Há um tempo um moço me disse que não acredita no amor, até hoje me pergunto: o que ele quer da vida, então? Que sentido há viver, se não pelo amor? Bom, não falo mais com esse sujeito porque de gente que tem pedra no peito eu quero é distância.

Outro dia fiz a mesma pergunta para outra pessoa e ela deu a resposta que mais se parece com o que penso: “Sim, mas não acredito que haja diferença, digo, amamos nossos pais, familiares, amigos e nosso parceiro da mesma maneira, mas demonstramos esse amor de maneiras diferentes.” Achei lindo o que ele tem no coração: amor ao próximo, seja quem for.

Sou uma eterna apaixonada: pela vida, pelas coisas, mas principalmente pelas pessoas. Sendo assim, lógico que tenho historias para contar, dessas que chorei o suficiente para dizer: “Pra mim já chega!” Mas nunca chega. Amo o suficiente para me decepcionar um milhão de vezes e amar um milhão e uma mais.

De qualquer maneira, a resposta desse segundo moço me fez pensar nas possíveis e infinitas formas de se demonstrar amor. Eu sempre me perguntava: por que amamos sempre, mas cada vez é diferente? A resposta dele veio a calhar para eu pensar na minha própria teoria. Teoria essa de que se cada um de nós é um ser único e diferente de todos os outros, como haveria uma fórmula universal de amar? Não há.

Alguns, como eu, amam com palavras, outros mais seguros ou, talvez, fechados, amam com gestos. Os confiantes amam com os dois. Os mais felizes amam, lógico, com o sorriso. Os religiosos amam através de orações. Os céticos amam zelando. Os deprimidos amam aos prantos. Os desacreditados podem amar sem mesmo tomar ciência de que o que sentem é, de fato, amor.

Mas nos magoamos e brigamos porque queremos ver que o amor das outras pessoas é demostrado exatamente ao nosso modo, não somos donos de nada além de nós, é egoísmo querer que o próximo ame à sua maneira se você não souber amar à maneira dele.

O que está faltando é interpretação. Não só eu, como o mundo inteiro, precisa entender os sentimentos e as mais diversas formas que ele pode ser expresso. “Você é minha vida.” Pode não significar nada perto de: “Está tudo bem?” Se a primeira frase sair da boca de alguém que não te quer bem de verdade e a segunda de alguém que arriscaria a própria vida por você.

domingo, 27 de novembro de 2016

Redes sociais


Desativei minha conta do Facebook e do Instagram e no dia seguinte, assim que acordei, minha mãe me perguntou: "Por que você excluiu o Facebook?" e eu apenas disse que me deu vontade. Depois disso, meu melhor amigo me mandou uma mensagem: "Por que você me bloqueou no Instagram?" E eu disse que não havia bloqueado ninguém, mas sim desativado minhas contas por um tempo, quando questionada do motivo, disse que precisava de um tempo.

Algumas horas depois, meu namorado me perguntou: "Aconteceu alguma coisa?" Eu não entendi a pergunta logo de início, afinal ele é um pouco desapegado às redes sociais, então respondi: "Como assim?" E ele questionou sobre o desativamento das contas; dei a mesma resposta que ao meu amigo, com um pouco mais de detalhes. Junto a isso, quase ao mesmo tempo, uma quarta pessoa, também uma amiga, havia me perguntado: "Está em crise existencial?" Achei graça da pergunta, mas respondi que sim.

Esses questionamentos, que continuam acontecendo após uma semana sem eu ter acesso a essas contas, me fizeram perceber como estamos virtuais; atualmente é quase inacreditável uma pessoa não ter Facebook, até nossos avós hoje em dia estão lá. Quem desativa uma conta sempre volta, mesmo porque essa rede social sabe como "precisamos" dela, tanto que não encontrei, ainda, a opção "Excluir", posso voltar a hora que eu quiser, como se nada tivesse acontecido.

Por outro lado, pude perceber também que não somos só "viciados" nas redes sociais pelo prazer de ver coisas engraçadas, conversar com nossos amigos que estão longe, passar um tempo vendo vídeos de gatinhos fofos ou assaltos à mão armada. Estou, em uma semana, sentindo dificuldades no processo de comunicação interpessoal. Minha cabeleireira e o meu dentista, por exemplo, marcam horários pelo Messenger; estou um pouco desatualizada das matérias da faculdade, pois já não tenho acesso ao grupo da sala. E a minha série favorita? Não consigo achar o link dos novos episódios, a não ser em uma página que eu seguia antes de desativar a minha conta, resultado: não estou assistindo mais.

Confesso que assistir à série "Black Mirror" me incentivou bastante em minha decisão, depois, as horas que eu passava arrastando o dedo compulsivamente para cima e para baixo, por vezes sem nem ver o que se passava pela tela e, por último, mas não menos importante, minha falta de paciência para leituras extensas; uma vez li em outro blog que estamos tão acostumados com informações sucintas que estamos perdendo a imaginação ao ler páginas e páginas até chegar ao clímax da história e mais alguns três livros para concluí-la.

Não estou aqui para falar mal de coisa alguma, apenas para dizer que existem muitas pessoas, assim como eu, que levam essa relação como um vício e não percebem. Meu primeiro dia sem Facebook foi pior do que o mês que passei sem chocolate. Está claro que essa tecnologia nos favorece em inúmeros processos (como os que citei acima onde estou me prejudicando), mas está ainda mais claro que quem dá importância demais e leva tempo demais junto a isso, está perdendo a melhor parte da vida: a real.

Após uma semana, eu olho o perfil de alguns amigos pelas contas no meu namorado, mas aquilo não me prende mais, eu deito na cama para dormir, não para ver a linha do tempo. Eu já não tenho crises de ansiedade sem motivo ou fico chateada porque alguém não me respondeu, se eu preciso falar com alguém eu faço à maneira antiga: ligo ou vou até a pessoa. Estou conseguindo colocar a leitura pessoal e da faculdade em dia, lendo mais de um livro por vez, pois não tenho mais no que me distrair. Até a bateria do meu celular está durando um dia inteiro.

O problema de tudo está no excesso, precisamos dessas ferramentas pois são úteis no dia a dia e nos gera lazer naqueles quinze minutos que sobraram do horário de almoço, mas é preciso que eu - e todos aqueles que perdem tanto ou mais tempo que eu e dedicam-se à selfie perfeita para receber centenas de curtidas - saibamos dar menos valor a quantidade de amigos virtuais e mais valor a quantidade de amigos que podemos tocar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Despercebida mudança


Hoje, analisando o simples trajeto de uma linha de circular em minha cidade, parei para pensar que nada é fixo, eterno ou imutável. Moro na mesma cidade desde que nasci e na mesma casa desde a metade desses anos. Quanta coisa não mudou desde então? Minha memória desse tempo é recente, de uma década ou um pouco mais, talvez; o que já é suficiente para eu perceber como tudo mudou e evoluiu em apenas duas décadas.

Quando vejo fotos antigas da minha cidade, considerada interior, vejo o quanto ela mudou. Os pontos de ônibus, de táxi, os comércios, o asfalto, as casas, os locais de suporte ao cidadão, entre outros. Mudanças desde as mais drásticas, que chocam à primeira vista, até as mais simples como a cor da casa da vizinha ou das paredes do shopping. Isso me faz perguntar quão mais rápida e assustadora é a mudança constante de uma cidade grande.

Mas, por que comecei a pensar nisso tudo? Porque nos moldamos e nos sentimos seguros pela familiaridade a nossa volta, sem nos dar conta que aquilo vai mudar uma hora ou outra. "Em frente à casa azul." E de repente o dono daquela casa a pinta de vermelho; acabou com a referência. "Vire na segunda esquerda." E de repente o sentido daquela rua é mudado e você tem que refazer seu trajeto. A ideia do palpável é ilusão, tudo está propício e em constante mutação.

Observando isso tudo, concluo que as pessoas, principalmente aquelas que – assim como eu – se sentem seguras com a "mesmice", que trás uma sensação de proteção, estão simplesmente iludindo a si mesmas. Se nem mesmo a cidade onde vivemos, nosso estabelecimento preferido, ou a cor daquela linda casa serão sempre os mesmos, como poderemos pensar que as pessoas, os pensamentos e sentimentos delas seriam? Assim como existe essa mutação diária em uma cidadezinha do interior, posso dizer que o ser humano sofre uma mudança equivalente à que sofreria a cidade mais desenvolvida do mundo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Desabafo sobre um amor chamado Adilson


Família, segundo Michaelis, é uma palavra de oito significados, dentre eles o que mais se encaixa no contexto que vou usar hoje é o terceiro: “Pessoas do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção; parentes, parentela.”. Nunca conheci meu avô materno pessoalmente, minha avó, também materna, morreu quando eu tinha uns seis anos; lembro-me do quão triste fiquei, mas não houve tempo para aquele laço entre mim e ela. Meus avós paternos não eram próximos do meu pai, consequentemente, não tive aquele laço com eles também, eu quase fui uma pessoa daquelas que não sabe o amor que é ter um pai ou mãe com açúcar, um avô, se não fosse pelo Adilson.

Adilson criou minha mãe, ou melhor dizendo, ela trabalhou como empregada, quando muito nova, na casa da família dele, mas o laço que eles tiveram foi como de pai e filha também. Ele era amigo da família dela, amigo dos meus tios, queria bem a todos eles e até trabalhou com um dos irmãos da minha mãe, mas independente disso tudo ele era o meu avô, era assim que eu sempre o tratava e falava dele para as pessoas. Ele foi o avô que me encheu de alegrias, presentes, brincadeiras, passeios, novidades. Eu ganhava CDs da Sandy e Júnior e da Floribella, aliás foi graças a ele que completei o álbum dela. Adilson me levava pra pescar com ele, eu odiava ficar quieta e em silêncio, mas ele era tão legal e tão inteligente e tinha um cheirinho de avô misturado com amor que eu nem ligava se estava chato.

Eu fiquei doente quando eu tinha lá meus onze anos; lembro-me que ele também estava lá. Era preciso que eu ficasse de repouso e me alimentasse com muitos suspiros, então ele sempre me levava suspiros. Ele sempre cuidou da minha mãe e de mim, sempre perguntava se estávamos precisando de alguma coisa e por mais que disséssemos que não, ele sempre sabia. Minha casa está repleta de lembranças do Adilson. Desde fotos, até a persiana da janela do meu quarto que com muito custo eu deixei minha mãe tirar. Ele também está na bancada da cozinha, mas o lugar onde ele se encontra em grande quantidade é no meu coração – e na minha memória. Qualquer passeio ao supermercado, ou ao sítio em Santa Branca, ou até mesmo a volta para casa ouvindo Alcione e cantando alto no carro era uma alegria desmedida.

Um dia, quando eu já era adolescente, Adilson bateu o carro. Mas ele ainda sabia que eu me chamava Gabriella. Ele ainda se lembrava do caminho de casa e vinha visitar minha mãe no aniversário dela e eu no meu. Até que ele não veio. Um ano. Dois anos. A ausência do Adilson me mostrou tudo isso que hoje é claro pra mim, o quanto aprendi com ele e o quanto o amo por ser o avô que meu coração escolheu. Por fim, questionei minha mãe firmemente e descobri que Adilson estava com Alzheimer, pedi muito para minha mãe me levar para visitá-lo, porém só ele a adotou como filha, a mulher dele tinha minha mãe apenas como uma moça que trabalhara em sua casa. Não fomos. Nunca. “Filha, o Adilson não vai lembrar-se de você, é melhor guardarmos lembranças boas dele.” Eu aceitei.

Então, no começo desse ano assisti: “Para Sempre Alice” e chorei tanto que o filme ficou mais tempo em pausa do que rodando. Chorei de ir lavar o rosto e tomar um ar na garagem. Desesperei-me e liguei para a mulher do Adilson, me identifiquei para que ela se lembrasse de mim e prometi ir visitá-lo. Não consegui. Não tive coragem, amarelei mesmo. Depois de anos sem ver meu avô, a ideia de vê-lo e saber que não se lembraria de mim não me agradava nem de longe. Eis que os meses passaram e minha mãe me diz: “Um Adilson que trabalhou com meu irmão faleceu sábado... Acho que é o Adilson.” Bateu desespero, segurei o choro e o fio da esperança, pedi que ela tivesse certeza. Então a certeza veio: meu querido avô havia falecido.

Não deu pra segurar, chorei, mas não foi aquele choro de quando assisti a Alice não reconhecendo a própria filha, foi um choro contido. Quando vi minhas amigas que também adoravam o meu avô, contei pra elas. A expressão de dor no rosto de cada uma não ajudou, meu coração apertou e eu resolvi abafar esse sentimento o máximo que pudesse. Ignorando o livro do Paulo Coelho que ele assinou, ou as fotos, ou até mesmo aquela bancada que ele mesmo fez. Na hora certa o luto chegaria, na hora certa eu aceitaria, na hora certa eu olharia todas as nossas fotos, ouviria os CDs e releria o livro “O Vencedor Está Só” de Paulo Coelho, onde Adilson assinou.

A coragem chegava bem na ponta dos dedos, depois o medo não me deixava e eu esquecia a ideia de olhar as fotos. Eis que hoje, procurando o que estudar pra faculdade, abri as imagens do meu computador e comecei a olhar, não fazia ideia do que ia achar. Uma foto dele. Que eu tirei com a minha primeira câmera digital, quando era moda e todo mundo tinha, sabe? A minha foi ele quem deu e aquela foi a primeira foto para testar a câmera. O choro veio antes do pensamento. A dor veio quase física. A saudade aperta o meu coração com a força que aperto as teclas para escrever isso aqui. Toda essa história me voltou em um segundo e eu só queria ter podido dar um último abraço no melhor amigo da minha infância, no avô que não precisou de laços sanguíneos para ter sido a pessoa mais presente.

Adilson, meu amigo e avô querido, se eu pudesse ter te dito em vida que você era um ser humano iluminado, que você me ensinou infinitas coisas que jamais esquecerei e que seu cheiro de avô misturado com isca de peixe ainda está na minha mente. Que seu sorriso calmo de quem soube viver a vida ainda passa como flash na minha memória. Se tivéssemos tido mais tempo, talvez você tivesse ficado com orgulho da neta postiça que conquistou. Se tivéssemos mais tempo cantaríamos umas músicas da moda, em vez de Alcione e talvez você estivesse ficado meu lado em outro momento difícil, ao contrario de mim, que não estive do seu. Em resumo, Adilson, você se foi, mas sempre estará em meu coração com muito amor.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Os prazeres e desprazeres de ser mãe



Começa antes mesmo da mulher saber, sonhar ou imaginar que um dia terá um filho. Aos quinze ela é extremamente nova e não pode engravidar, afinal, fica feio, né? Aos dezoito ela não tem maturidade o suficiente, é bom terminar o ensino superior primeiro, se não como irá manter o filho? Aos vinte e cinco ela está com a maturidade, carreira e corpo perfeitos, mas o filho não vem. Aos trinta as pessoas a pressionam, pois o relógio biológico não perdoa: é agora ou nunca.

Então, no momento em que ela descobre a gravidez, seja aos quinze, dezoito, vinte e cinco ou trinta, ela ouve nove meses de infinitos conselhos. Também aprende que amor de mãe é o maior e melhor que existe; que o dia que conhecer seu filho será sem dúvida o melhor dia de sua vida, que ela se sentirá realizada, e que será o dia em que ela irá descobrir para quê veio ao mundo. Aqueles sonhos profissionais e pessoais? Imagina! Nem se comparam com a alegria de um pequeno chegando, todo dela.

Aí os nove meses começam a passar. Seus peitos incham e começam a doer, ela já não pode usar seu perfume preferido, senão, é vômito na certa. Ela começa a planejar uma vida inteira na cabeça dela, para uma criança que talvez ela ainda nem saiba o sexo. De repente: ansiedade! Pensou demais no que não devia e precisa se distrair. Então usa os últimos resquícios de egoísmo para pensar nela mesma e é quando percebe o quão limitada ela estará dali em diante, porque deverá se dedicar integralmente àquele ser indefeso que está ali, ansioso para conhecê-la. Subitamente, pensar em seu próprio futuro não a fez feliz também.

Depois de nove meses, o primeiro pecado acontece: o filho nasce e então, só por um segundo, ela pensa em si própria (que a essa altura fora completamente esquecida pelo pai da criança, os amigos e familiares e o pior de tudo, por ela mesma). Olha-se no espelho e se sente a criatura mais horrível na face da Terra. No próximo segundo ela se foca no filho e o pecado some, afinal ela está segurando a criatura mais linda da face da Terra, dois extremos que se compensam.

Ainda assim mais tarde aquela mesma mãe, principalmente aquela que tinha outros sonhos antes da maternidade, se pergunta: “Por que é que não sinto todo aquele amor e alegria instantâneos que tantas mães que sempre sonharam com isso me falaram?” Porque, inegavelmente, há um romance quase de conto de fadas em cima desse ato, onde se acredita que só amar basta, esquece-se da maturidade necessária, de todos os contras; as pessoas só falam dos prós na hora de contar a história, pois ninguém quer desanimar ou desencorajar a mais nova mamãe do pedaço. Afinal, os desprazeres ela vai descobrir por si só.

Eis que ela começa a descobrir todas as batalhas diárias que uma mãe enfrenta, onde, com o passar do tempo, o amor por aquele pequeno se torna realmente imensurável e ela entende que esse amor existe sim, mas não é instantâneo para ficar pronto em três minutos. Esse amor e essa relação são construídos como qualquer outra relação no mundo, a diferença é que a conexão da mãe com seu filho é muito mais sensível que as demais, até mesmo que o retorno do seu filho por ela. E ela sabe disso. Ela sabe que ela morreria por ele e que talvez daqui a oitenta anos ele a abandone num asilo, pois perdeu a paciência com aquela velha senhora. Mas isso não a impede de pressentir um mau acontecimento e salvar seu filho antes mesmo do incidente.

Acontece que ela aprende, dia após dia, que as alegrias e tristezas, felicidades e dificuldades desse papel, dessa tarefa desempenhada sem férias nem horário de almoço, estão fortemente ligadas. Nenhuma mãe é obrigada a ser a melhor amiga do seu filho, mas é preferível que assim seja. E como melhor amiga ela pode se sentir de saco cheio vez ou outra, ela pode sentir vontade de ouvir música no volume máximo, como fazia antigamente, ou passar um final de semana sozinha na praia. Ser mãe é uma condição que vai durar o resto da vida dessa mulher, mas não é a única. Ela é mãe, professora, advogada, dona de casa, atriz, compositora, escritora, funkeira e o que mais ela quiser. Acontece que se somar todas as alegrias que ela tem em todas essas outras condições e comparar com as alegrias que ela tem com aquele filho, ele ganha de estourar o placar. Por isso ela aceita se machucar em tantos espinhos nesse longo caminho, pois o sorriso desse ser é a rosa mais bonita de seu jardim.



Nota sobre o texto: Como ainda não sou mãe, não me senti no direito de fazê-lo sem ajuda de uma, por mais que tudo isso seja baseado em conversas mais íntimas que participei e ouvi entre mães, conversei com uma grande amiga, Ana Carolina, mãe da Alice mais doce que conheço, para que eu pudesse escrevê-lo com mais entendimento do assunto.





sexta-feira, 29 de julho de 2016

Super Herói


Então ele disse que não sabe para que diabos irei fazer psicologia, quis responder que vou aprender a lidar com gente difícil como ele, mas a resposta só me ocorreu horas depois. Geralmente não me importo com o que pensam de mim, uma pessoa ou outra em específico me dá vontade de mostrar conquistas e verdades, mas não vale a pena. Nós criamos nossos laços com os outros e demonstramos afeto como aprendemos, conforme alguém já tenha criado conosco um dia.

Há alguns anos ele me escreveu – naqueles caderninhos que pedíamos aos amigos que nos deixassem mensagens fofas, pois no ano seguinte muitos se mudariam de sala e até de escola – dentre algumas coisas fofas, que raramente eram ditas, uma frase que não se fez esquecer: "Não copie os meus defeitos." E agora que atingi certa maturidade para entender e enxergar quais defeitos são esses, faço a lição de casa diariamente para não copiá-lo negativamente.

Por muitos anos o chamei de super herói, mas hoje percebo o quão bom e também o quão humano ele é. Tem qualidades incontáveis e defeitos irritantes. Sabe aquela pessoa que não abraça, mas faz o almoço? Aponta defeitos quando estou presente, por achar que assim vai me incentivar a melhorá-los, mas fala com orgulho para os amigos da bolsa que ganhei na faculdade. E não posso culpá-lo. Como eu já disse, ele só reproduz o que aprendeu.

 Eu aprendi de outra maneira, vendo o que funciona comigo e tentando reproduzir aos próximos. Abraço, incentivo e parabenizo, pois acredito que as chances de alguém fazer algo por reconhecimento e não porque duvidaram dele são bem maiores. Existem aqueles que se superam ao serem desafiados, mas aí a pessoa acaba fazendo pelo outro, não por ela mesma. Acredito que o único motivo pelo qual devemos melhorar ou modificar algo seja porque nós queremos isso.

No fim, nossos laços por vezes não são ligados porque a forma de se comunicar é diferente. Quando o beijo no rosto, ao chegar em casa, estou dizendo que o amo, mas ele não escuta. Quando ele me nega ajuda sobre algo complexo a meu ver, mas que ele considere simples, para que eu aprenda a me virar sozinha, claramente ele está dizendo o quanto me ama, mas ao invés de escutar eu saio batendo o pé.

É difícil interpretar um idioma que não somos fluentes, por outro lado somos extremamente egoístas em querer que o outro nos ame a nossa maneira, sabendo que cada um demonstra a seu modo, como para aquela pessoa deu certo. Ele, por exemplo, é um grande homem que fala do pai com certa mágoa, mas com muito orgulho, diz que é o homem que é hoje, graças ao pai que não lhe facilitou a vida, logo, ele reproduz todo esse ensinamento, pois é a sua maneira de amar. Eu, por outro lado, conto nos dedos e revivo na memória cada: "Filha, eu te amo." Que ouvi daquele homem.

domingo, 22 de maio de 2016

Solidão

Existe crise dos vinte e dois anos? Pois se existe, nela entrei, e de cabeça. Não me orgulho em dizer que passei as primeiras horas da madrugada do meu aniversário chorando, e pelo motivo mais horrível do mundo: saudades. Quem disse que isso é bom, é um tremendo de um masoquista.

Aliás, sentir saudades aos vinte e dois é quase suicídio. Além dos dias atuais, onde ninguém tem tempo para nada, pois quanto mais ocupado, melhor. Nós, na casa dos vinte e alguma coisa não somos mais jovens ou adolescentes com tempo livre de sobra, tampouco somos adultos estabilizados e cheios de certezas (alguém aí com mais sabedoria consegue me dizer se algum dia, de fato, seremos?).

Chorei porque quero presença, não presente, visitas, não recados. Mas quem tem tempo? Quem, em seus vinte e tantos consegue parar seus compromissos para passar a tarde com um amigo? Quero ver minha melhor amiga da segunda série, a da quarta, da sétima e do ensino médio também. A amiga que conheci no cursinho, em resumo, todas as pessoas que se doaram e que me doei ao longo dessas duas décadas.

Mas, como? Depois das 22h eu posso, mas a Ana sai da faculdade quase 23h. No período da manhã eu também posso, mas a Jordana e o Diego, por exemplo, trabalham. Quarta eu posso, mas o Carlos tem trabalho de faculdade para fazer. Sábado a Ana pode, mas olha só: quem não pode sou eu. Sem contar que além dos horários que não batem, tem aqueles que se mudaram e ficaram ainda mais distantes.

Parece um jogo de The Sims, daqueles que temos missões semanais (desculpe-me pela comparação, mas procure o sentido), você quer jogar (entenda: viver) da maneira que bem entender, aproveitar os passatempos e gastar com o que quiser, porém você tem sempre uma missão pendente. Na casa dos vinte (em diante e para sempre) vêm primeiros as obrigações, depois o lazer, acontece que, uma obrigação gera outra e sempre deixamos o que queremos para depois.

"Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão." E não é egoísmo, talvez nem seja escolha, mas obrigação. Chorei porque aqueles que amo não estão presentes, mas e eu, estou presente na vida dos que me amam? Sinto falta de uma mensagem de bom dia, de um abraço de algum amigo, mas quantas vezes passei o dia no trabalho, sem responder qualquer mensagem, ou deixei de sair com alguém, para dormir de tão cansada?

Às vezes me pego planejando o futuro (e me odeio por fazer isso com tanta frequência), mas vou de um futuro próximo, até anos e anos que virão, daqui a pouco vivi a vida inteira e me matei, só na imaginação. Acontece que me pergunto se, daqui alguns anos, será sempre assim, se continuaremos sem tempo para os outros, mas já sei a resposta: sim. Os adultos mais sábios nos estampam a resposta na cara, com suas agendas cheias de compromisso.

Quem dera tivéssemos disposição, dinheiro e, principalmente, tempo para estarmos sempre presentes na vida daqueles que amamos. O que me resta fazer é, com certa dificuldade, aceitar que cada um tem sua batalha para ganhar, que alguém não me ama menos porque não fala comigo há tempos, ou que eu ame alguém menos porque preferi descansar depois de um dia longo de trabalho. Dentro de cada um, devemos sentir e agradecer pelo amor daqueles que foram tão presentes que nem décadas de ausência irão apagar.


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Delicadamente


Tento tocar o notebook com a leveza e perfeição que eu tocaria um piano. Tem um texto pela metade no primeiro documento aberto, não gostei o suficiente, quero algo leve, estou tentando de novo. Quando alguém ler isso, precisa ler a minha alma, precisa ler com a delicadeza que eu aperto as teclas do notebook ao som de boas músicas com piano ao fundo.

Sinto-me traidora do Tempo, pregando sempre nossa boa amizade, mas internamente desejando que ele passe devagar e quase pare – principalmente nessas madrugadas silenciosas e maravilhosamente minhas – para eu poder ter tempo de ser tudo o que sonhei desde pequena. Professora, desenhista, cantora, modelista, pianista, mulher gato, Bela (a da Disney), arquiteta, engenheira, escritora, tocadora da alma das pessoas (no bom sentido). Quantas vidas eu preciso, senhor Tempo, para ser tudo isso?

Se bem que, colocando assim no papel, ficou escancarado na nossa cara (na minha pelo menos, ficou na sua?!): meu negócio é arte, meu negócio é gente, aqueles sentimentos que temos quando ouvimos aquela música delicadamente perfeita. Aquele arrepio que nos dá em público, quando algo toca fundo em nossa alma, que a gente fica até com vergonha dos pelinhos levantados. Eu gosto de alma, corpo é bom também, mas quando duas almas se tocam... Puta merda! (Desculpa o palavrão, mas é muito louco, você sabe).

Não é curiosidade, maldade, nada disso, é só que hoje em dia somos tantos e temos tão pouco tempo, andamos tão apressados, ocupados, distraídos e, principalmente, cansados que quando eu tenho ou presencio essa ligação entre as pessoas, ainda mais se proporcionada por algum tipo de arte, fico tão feliz que crio esperanças em nós de novo. Precisamos de coração batendo, acelerando, parando por uma fração de segundo. Precisamos de mais vida, não necessariamente mais tempo.

“Quem não te conhece que te compre.” Deve ter meia dúzia (algumas dúzias) retrucando por aí. Confesso e peço perdão pelas vezes que não toquei com delicadeza qualquer um que me lê, mas convenhamos que peco pelo excesso e não pela falta. Acho um desperdício quando alguém me diz que perdeu a fé na humanidade, que é melhor ser morno, que melhor não criar expectativas para não se decepcionar. Concordo com vocês que quebrar a cara é um saco, mas ser feliz é sensacional.

Enquanto houver uma só pessoa que ame nesse mundo (e sempre haverá) então todos os laços delicados que nos unem valerão a pena. Cada reação que nossa alma pede ao corpo que externe vale a pena, nesses momentos entendemos que o Tempo, nosso grande amigo como eu sempre digo, nada tem a ver com a história. Culpados somos nós que, querendo possuir o mundo, não dedicamos tempo nem a conhecer nossa própria alma.

Então, por favor, façamos assim: seremos tudo o que sonhamos, mas acima de tudo: humanos. Valorize as delicadezas, aquele agudo sensacional, aquele solo viciante de guitarra, a perfeição do som de um piano... Qualquer coisa que te toque delicadamente. Vamos nos deixar arrepiar três vezes por dia, excitar a nossa alma também. Não teremos todo tempo do mundo, mas viveremos todos os segundos que temos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A quem amar?


Somos programados a acreditar na estrutura perfeita de família: mãe e pai, posteriormente um ou dois filhos, todos felizes para sempre. Confesso que nunca vivi esse conto. Confesso ainda que, se vi esse conto na vida real umas quatro vezes, foi muito. Até os mais céticos acreditam nisso, mesmo sem perceber.

A estrutura familiar que conheço, na maior parte das vezes, é uma bagunça! Compõe-se de pai casado, com filhos, uma amante e um bebê. Uma adoção. Irmãos com diferença de idade tão grande que não criaram laços, quando a caçula nasceu o mais velho havia acabado de se casar. Um casal e ponto final. Uma mulher e um gato, um homem e um cachorro, ou o contrário.

Dentro desse conto vem outro ainda maior: que devemos amar nossa família acima de tudo. Mas, o que é família exatamente? A mãe que pariu ou a avó que criou? O pai que sumiu ou o padrasto que trocou todas as fraldas? O irmão de sangue que não cresceu junto ou o vizinho que se tornou um irmão de alma? Quem impôs quem cada um deve amar, afinal?

Se eu tive mais afinidade com minha prima ou minha vizinha do que com minha irmã, preciso me sentir culpada por não amá-la incondicionalmente? Afinal, ela é sangue do meu sangue. Se a filha da minha melhor amiga se tornou minha afilhada e minha sobrinha não me reconhece na rua, a culpa é minha? Afinal, filha da minha irmã, deveria ser o meu xodó.

O ser humano é tão diverso e tão plural que seria um erro tentar mensurar o que é família para cada um de nós. O que nos cabe é respeitar a história que cada indivíduo traz consigo e valorizar os laços que criamos com aqueles por quem tanto prezamos. Pois a família é feita assim: dia após dia, e as conexões entre as pessoas vão muito além das classificações genéticas que, feliz ou infelizmente, colocam-nos sob o mesmo teto (ou não).

Criar a expectativa, dentro de nós, de que nossos familiares estarão sempre ali, nos amando e apoiando é criar a primeira frustração da nossa vida. Amar é um sentimento tão intenso para que alguém imponha como se deve conjugá-lo. Ninguém é obrigado a amar alguém somente porque compartilha de seu sangue ou de seu sobrenome.


Redigido com a ajuda de Denis Fonseca.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Uma década


Dia desses estava no trabalho e recebi uma mensagem no celular, uma amiga de uma década mandou uma foto nossa no ano em que nos conhecemos. Sim, uma década. Engraçado ainda estar na casa dos vinte e já ter amizades de longa data. Amigos de dez anos passaram metade da minha vida ao meu lado, daqui a pouco eu terei vivido mais tempo ao lado deles do que sem tê-los conhecido.

Houve tempo para tudo nesse intervalo de anos, tanto na nossa vida pessoal, quanto em comum. Nós duas nos aproximamos e viramos amigas inseparáveis, mas nos separamos. Viramos conhecidas de oi do outro lado da calçada. Depois, colegas. Hoje assuntos em comum e maturidade nos tornaram próximas o bastante para quem namora, estuda, faz faculdade, trabalha, não trabalha mais, corre atrás de emprego – essas coisas.

Uma década nos fez enrijecer, talvez até amargar um pouco, mas não mudou nossa essência, tanto que uma foto foi capaz de nos fazer debater as complexidades da vida via mensagens, por quase três horas. Teorias e promessas que infinitamente fazemos e nunca cumprimos. Aquele medo do tempo passando, do envelhecimento.

Esse foi o tema da conversa: a reação em cadeia que fizemos e continuamos fazendo com nossa vida, constantemente sentindo falta do passado, planejando e sonhando com o futuro e deixando o presente de lado – presente esse que, quando virar passado, iremos sentir falta porque não soubemos aproveitar. Então, dessa vez, prometemos que vamos fazer diferente, mas daqui a pouco estamos nós no hospital com pressão alta ou crise de gastrite, vamos morrer com pouca idade e velhas se não mudarmos isso logo.

Confesso que desde que nos afastamos sempre a desejei aqui. Não houve um ano que eu não estivesse sentido falta da amizade, do papo furado, do colo quando estava arrasada e do sorriso quando estava feliz. Então pelo menos em relação a nós estou fazendo assim: ficando feliz cada vez que temos conversas aleatórias, sem remoer porque nos afastamos, sem sentir saudades de como era e sem imaginar se vamos nos aproximar mais ou nos afastar mais uma vez.

Meu desejo mais desesperado para nós duas é o mesmo: ver profundo e real sentido nas palavras: “Aqui.” E “Agora.” Caso precise tatuar (também), vá em frente. Não sinta saudades, não releia as cartas, se possível crie coragem de jogá-las fora. O que foi dito há um ano não é mais verdade, pode até estar escrito, mas o autor daquilo já mudou de opinião.

Também não planeje demais o amanhã, deixemos o tempo seguir seu curso natural, daqui um segundo o futuro vira presente e um segundo mais ele virará passado. Não percamos tempo em lugares onde não poderemos mudar a história. O único lugar onde podemos escrever é no aqui e no agora.

sábado, 16 de janeiro de 2016

“Nós Dois no Abismo”


Estou na vibe de uma década atrás, ouvindo e fazendo coisas que costumava fazer nos meus 11 anos. Ouvindo Sandy e Junior, jogando e lendo em vez de ficar em redes sociais, por exemplo. Eis que hoje coloquei o CD Replay pra tocar e notei a data de lançamento: 2006, quando me dei conta que isso é nada mais, nada menos que dez anos. Achava que eu era mais velha, mas não, naquele tempo eu era só uma criança de 11 anos que perdia as tardes no quarto desenhando com a voz desses dois ao fundo.

Achei interessante o fato de que mesmo depois de anos sem ouvir e de dez anos de lançamento, mesmo depois de ter amadurecido e crescido ainda canto com emoção e quase sem errar as letras. De repente a música “Nós Dois no Abismo” começou e o tom da minha voz desafinada se elevou instantaneamente. Quando parei para pensar em tantos momentos em que essa música me acolheu, foi impossível não me arrepiar de emoção, quase caí em lágrimas, mas me contive para curtir o momento.

Um grito abafado
Um choro contido
O mundo ao contrário
Nós dois no abismo
Mas não tenho medo

E quando o sol nascer
Se eu estiver longe então
Não vale me esquecer
Logo que puder, voltarei

Eu subo nas pedras
Escalo as paredes
Invado a cidade
Derrubo os muros
Mas não perco o rumo

E quando o sol nascer
Se eu estiver longe então
Não vale me esquecer
Logo que puder eu voltarei

Novo
Puro
Tudo, teu

E quando o sol nascer
Se eu estiver longe então
Não vale me esquecer
Logo que puder eu voltarei
Eu voltarei
Só por você

O mundo ao contrario
Nós dois no abismo
Mas não tenho medo

Replay, replay, replay. Meu Deus, como eu era boba! Chorava por assuntos de gente grande, sem saber do que se passava. Cantava essa música, sem nunca nem ter beijado na boca, pensando com carinho no menino que eu gostava. Hoje, sorri. Cantei e procurei alguém que desse novo sentido à letra. Achei: eu mesma. Fiquei tão contente com essa ligação que fiz de mim pra mim. Gabriella criança para Gabriella jovem adulta.


Cantei para minha criança, com lágrimas nos olhos, pensando que hoje eu voltei, enfim, pra mim. Voltei, enfim, a aceitar o que eu quero ser quando “crescer”. Hoje, dez anos depois do lançamento de Replay, dez anos depois de ter escrito meu primeiro poema, voltei pra pegar minha criança na mão e levar de volta à escola: “Vamos, Gabi, atrás do seu sonho.”. Espero que, daqui mais dez anos, eu ouça essa música novamente e a Gabriella adulta queira chorar mais ainda de orgulho dessas duas décadas que passaram.