quinta-feira, 24 de maio de 2018

Pensamentos e um café

Sentada, tomando uma xícara de café e divagando, olhei para a parede e dei de cara com uma foto minha – uma das minhas preferidas: de perfil, com o riso fácil, olhando o horizonte, com os cabelos ao vento. E era como se eu ouvisse aquela versão de mim, dizendo a mim mesma: “Sorri menina, esse sorriso é tão elogiado e não é à toa, olha esse mundo de oportunidades e possibilidades à sua volta, corre para conquistar os sonhos que ainda não conquistou e sonhe o mais alto que puder.” Dei um soco na mesa. Desculpe, não consigo controlar meus sentimentos muito bem. Ainda. Porém, consegui segurar as lágrimas dentro dos olhos e corri para o computador para escrever antes que eu me esquecesse.

Com o pensamento acelerado, não consigo distinguir muito bem o que eu espero de mim mesma, nesse momento dizem que só posso aproveitar o luto. Percebi que ele é o meu próprio luto, me doei, modifiquei e apaguei tanto de mim mesma que agora o vazio me desespera. Tenho uma pasta no computador cheia de textos pela metade; na estante, cinco livros me esperam para contar como terminam suas histórias; minhas matérias da faculdade estão entre 70% e 98%, não concluo nenhuma. E hoje me desafiei a terminar algo: esse texto – ou lembrete, carta, aviso – a mim mesma. Não sei se esse problema que passei a ter com conclusões tem a ver com o fato de que não consigo mais me concentrar sozinha, ou se é justamente o contrário, me tornei dependente de sempre ter algo que dependa de mim.

Mas, me esqueci do mais importante, eu já tenho algo que depende 100% de mim: eu mesma. Aquela menina sorridente da foto me olha com ternura, como se estivesse orgulhosa por tudo que já conquistei de lá para cá, e dizendo para eu ter calma e prestar atenção em cada flor e pedra no meu caminho, pois quando eu olhar para trás irei me orgulhar das pequenas alegrias dos meus dias e dos grandes ensinamentos que tirei dos momentos difíceis. Ela me diz também: “Não abra mão de tudo o que compõe o que você é por ninguém, pois os caminhos se cruzam e descruzam ao longo da vida, mas só você mesma estará lá do começo ao fim.” Acho que devo começar a ouvi-la, afinal.

Ontem eu ri na cara do perigo. Olhei dentro dos olhos de um – atualmente – amigo. O mesmo amigo que há alguns anos foi embora da minha vida e me levou junto, não havia sobrado nada de mim para contar a história. Hoje, cinco anos mais madura (e calejada) eu o olhei dos pés a cabeça e me orgulhei da mulher que me tornei desde que ele foi embora e me levou consigo, do quanto eu consegui me reinventar e me superar. Penso que se eu consegui me achar em um momento onde achei que não havia sobrado nem eu mesma; consigo agora, mesmo com meu peito doendo como se tivessem arrancado meu coração com as mãos, igual a bruxa da Branca de Neve faz.

No final das contas, percebo que somos eternos aprendizes, nosso eu do passado nos olha com orgulho do que somos e nosso eu do futuro nos olha com ternura e paciência. Se pudéssemos pular os maus bocados da vida, quase nada sobraria. Essa mesma menina de riso fácil me espera lá na frente, rindo do quanto eu chorei por isso tudo; mas ela nada pode fazer, além de me observar passar por tudo isso. Bom, hoje eu salvo esse documento, desligo meu computador e volto ao meu café. Quem sabe aquela menina da foto não me conte mais algumas coisas.