sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Os prazeres e desprazeres de ser mãe



Começa antes mesmo da mulher saber, sonhar ou imaginar que um dia terá um filho. Aos quinze ela é extremamente nova e não pode engravidar, afinal, fica feio, né? Aos dezoito ela não tem maturidade o suficiente, é bom terminar o ensino superior primeiro, se não como irá manter o filho? Aos vinte e cinco ela está com a maturidade, carreira e corpo perfeitos, mas o filho não vem. Aos trinta as pessoas a pressionam, pois o relógio biológico não perdoa: é agora ou nunca.

Então, no momento em que ela descobre a gravidez, seja aos quinze, dezoito, vinte e cinco ou trinta, ela ouve nove meses de infinitos conselhos. Também aprende que amor de mãe é o maior e melhor que existe; que o dia que conhecer seu filho será sem dúvida o melhor dia de sua vida, que ela se sentirá realizada, e que será o dia em que ela irá descobrir para quê veio ao mundo. Aqueles sonhos profissionais e pessoais? Imagina! Nem se comparam com a alegria de um pequeno chegando, todo dela.

Aí os nove meses começam a passar. Seus peitos incham e começam a doer, ela já não pode usar seu perfume preferido, senão, é vômito na certa. Ela começa a planejar uma vida inteira na cabeça dela, para uma criança que talvez ela ainda nem saiba o sexo. De repente: ansiedade! Pensou demais no que não devia e precisa se distrair. Então usa os últimos resquícios de egoísmo para pensar nela mesma e é quando percebe o quão limitada ela estará dali em diante, porque deverá se dedicar integralmente àquele ser indefeso que está ali, ansioso para conhecê-la. Subitamente, pensar em seu próprio futuro não a fez feliz também.

Depois de nove meses, o primeiro pecado acontece: o filho nasce e então, só por um segundo, ela pensa em si própria (que a essa altura fora completamente esquecida pelo pai da criança, os amigos e familiares e o pior de tudo, por ela mesma). Olha-se no espelho e se sente a criatura mais horrível na face da Terra. No próximo segundo ela se foca no filho e o pecado some, afinal ela está segurando a criatura mais linda da face da Terra, dois extremos que se compensam.

Ainda assim mais tarde aquela mesma mãe, principalmente aquela que tinha outros sonhos antes da maternidade, se pergunta: “Por que é que não sinto todo aquele amor e alegria instantâneos que tantas mães que sempre sonharam com isso me falaram?” Porque, inegavelmente, há um romance quase de conto de fadas em cima desse ato, onde se acredita que só amar basta, esquece-se da maturidade necessária, de todos os contras; as pessoas só falam dos prós na hora de contar a história, pois ninguém quer desanimar ou desencorajar a mais nova mamãe do pedaço. Afinal, os desprazeres ela vai descobrir por si só.

Eis que ela começa a descobrir todas as batalhas diárias que uma mãe enfrenta, onde, com o passar do tempo, o amor por aquele pequeno se torna realmente imensurável e ela entende que esse amor existe sim, mas não é instantâneo para ficar pronto em três minutos. Esse amor e essa relação são construídos como qualquer outra relação no mundo, a diferença é que a conexão da mãe com seu filho é muito mais sensível que as demais, até mesmo que o retorno do seu filho por ela. E ela sabe disso. Ela sabe que ela morreria por ele e que talvez daqui a oitenta anos ele a abandone num asilo, pois perdeu a paciência com aquela velha senhora. Mas isso não a impede de pressentir um mau acontecimento e salvar seu filho antes mesmo do incidente.

Acontece que ela aprende, dia após dia, que as alegrias e tristezas, felicidades e dificuldades desse papel, dessa tarefa desempenhada sem férias nem horário de almoço, estão fortemente ligadas. Nenhuma mãe é obrigada a ser a melhor amiga do seu filho, mas é preferível que assim seja. E como melhor amiga ela pode se sentir de saco cheio vez ou outra, ela pode sentir vontade de ouvir música no volume máximo, como fazia antigamente, ou passar um final de semana sozinha na praia. Ser mãe é uma condição que vai durar o resto da vida dessa mulher, mas não é a única. Ela é mãe, professora, advogada, dona de casa, atriz, compositora, escritora, funkeira e o que mais ela quiser. Acontece que se somar todas as alegrias que ela tem em todas essas outras condições e comparar com as alegrias que ela tem com aquele filho, ele ganha de estourar o placar. Por isso ela aceita se machucar em tantos espinhos nesse longo caminho, pois o sorriso desse ser é a rosa mais bonita de seu jardim.



Nota sobre o texto: Como ainda não sou mãe, não me senti no direito de fazê-lo sem ajuda de uma, por mais que tudo isso seja baseado em conversas mais íntimas que participei e ouvi entre mães, conversei com uma grande amiga, Ana Carolina, mãe da Alice mais doce que conheço, para que eu pudesse escrevê-lo com mais entendimento do assunto.