Tentando me definir, aos vinte e poucos anos, me autodenominei
“aspirante a escritora” e comecei a pensar nisso. O que me faz, de fato, ser ou
não escritora é o simples ato de escrever sobre qualquer coisa. A princípio,
fiquei triste por pensar que meu único dom é algo simples, que pode ser
aperfeiçoado e dominado por qualquer pessoa, então continuei pensando a
respeito, sobre quantas pessoas realmente dão importância à escrita, se dedicam
e gostam disso e novamente me senti capaz de, em longo prazo, fazer a diferença
com isso.
Penso na trajetória que já percorri e no quanto ainda
falta, tento lembrar quando decidi me intitular tal coisa e quando o comecei a ser, na prática. Desde criança, os recreios passados na biblioteca,
semanalmente, a procura de em qual livro iria me aventurar, foram tantos amigos
que carreguei no peito, colo e mochila, que não sou capaz de lembrar todas
as histórias. Depois, arrisquei-me a começar a escrever vez ou outra sobre meus
dramas adolescente e eis que hoje releio e dou risada – mas também me orgulho
de como tão nova eu já conseguia deixar qualquer história banal dramática o
suficiente pra se tornar ficção.
Escrever é uma terapia, talvez para quem me leia, mas
principalmente para mim, que escrevo. Sou daquelas que faz listas sobre o que é
preciso comprar, o que precisa ser feito no decorrer da semana ou de coisas que
não posso esquecer. Tenho a ânsia de tirar da minha cabeça alguma coisa que só
sai, permanentemente, através da escrita. Seja algo superficial ou importante,
precisa ser dito, descarregado. Depois disso passa e quando, por acaso, releio
um escrito meu, dou risada de que aquilo tivesse me incomodado a tal ponto.
Incômodo esse que não necessariamente é algo ruim. Este texto é um exemplo disso. Talvez, de fato, eu não seja nada querendo ser alguma
coisa. Com absoluta certeza existem centenas de milhares melhores ou mais
corajosos que eu nessa arte. Não recebo nada em troca, além da paz que isso me
dá, alguns elogios sinceros e tantos outros superficiais. O fato é que discorrer sobre causos, verídicos ou inventados, é a pedra que eu vim a Terra
para lapidar. Em uma década de prática ainda não cheguei aonde desejo, mas
terei mais alguns pares de vinte anos para chegar lá.
Enquanto isso, eu escrevo sobre o que necessito ou
incomoda, o que motiva ou inspira. Escrevo sobre sonhos e vontades, medos e
verdades. Crio documentos que vão do anonimato à lixeira, invento histórias e
penso que, um dia, as publicarei. Entre uma vírgula e outra vou lapidando esse
dom e no percurso (e com sorte) vou tocando o coração de quem compartilha
desse mesmo amor comigo, que é poder brincar, se sensibilizar e ser curado
através de histórias e palavras.