sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Sonho x medo

Você já teve uma paixão platônica? Alguém que você idealiza um relacionamento perfeito de conto de fadas, mesmo não a conhecendo a ponto de saber se seria realmente tudo aquilo. Onde a graça é justamente essa, ser apenas fruto da sua imaginação e pronto, qualquer pitada de realidade estragaria tudo.

Sou assim com meus maiores sonhos. Hoje tenho maturidade (e, talvez, conhecimento) para entender que saboto meus planos antes mesmo de colocá-los em prática. "Por que?!" Você me pergunta. Por medo do potencial fracasso, concluo agora. Mesmo sabendo que se eu não fizer nada eles não se tornarão realidade, sei que começar alguma coisa pode fazer com que eles deixem de ser sonhos.

Com isso, abro novos caminhos. Comecei um curso diferente, o qual nunca sonhei, e chego aqui no motivo desse texto: oportunidade. Estou a caminho do quarto semestre, vejo que por fim estou criando raízes na faculdade, olho o longo caminho pela frente com ansiedade e alegria, imaginando a psicóloga que serei. Isso tudo porque, me atrevo a dizer: eu não tive, nem tenho, medo.

Lidar com o maior sonho da minha vida, equivale a lidar com o risco do maior fracasso da minha vida também. Nunca sonhei ser psicóloga, então dou o melhor de mim para essa formação, sem nenhuma expectativa em cima disso, e me torno a cada dia a melhor psicóloga que poderia ser. Agora, escritora, quanto mais eu sonho com meu livro, mais pressão coloco em mim mesma, sobre cada vírgula nova que escrevo.

E isso tudo me faz deixar, ano após ano, o sonho da faculdade de Letras e o de colocar no papel meu primeiro - e tão idealizado - livro em standby. Mesmo sabendo o quão errado isso é e que, acima de talento ou dom, escrever é minha alegria; continuo mantendo em cativeiro o protagonista do meu primeiro romance. Você nem imaginaria, mas ele tem medo de que eu desista antes de poder contar a você a história dele.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Engrenagem


Acordei às dez horas e fui ao mercado. Voltei, comecei a arrumar a casa e a colocar em dia algumas coisas pessoais. Sentei-me para tomar um café e então percebi que já eram sete da noite, e que era a quarta vez que parava para comer. Assustei-me ao notar como nosso tempo voa enquanto nos mantemos ocupados com coisas que gostamos.

Pensei no varal cheio de roupas que havia acabado de estender, e me lembrei que antes disso eu havia precisado recolher as que já estavam secas. Rindo, me perguntei quando é que aquele varal estaria sem roupa alguma, até que conclui que a resposta seria nunca.

Comparei uma casa a uma engrenagem. São infinitas coisinhas que precisam ser refeitas dia após dia, mas em uma ordem onde nada vai acabar junto. O ciclo: cozinhar, lavar, passar, limpar, guardar (...) não é sequencial. Enquanto a louça está limpa, o quarto já está por varrer; quando a roupa está no varal, já é necessário limpar o fogão.

Você deve estar se perguntando porque, em pleno sábado, estou falando sobre cuidar da casa. Permita-me explicar: cresci entre dois extremos. Filha de uma amizade colorida, sempre tive duas casas, uma com um pai extremamente metódico, para não dizer perfeccionista; e outra com uma mãe extremamente esquecida, que não se incomodava tanto com bagunça.

Com isso, nunca percebi a mágica na funcionalidade de uma casa. Em alguns dias da semana eu precisava decorar o ângulo certo de cada coisa em cima da mesa, antes de retirá-la, para poder voltá-la ao mesmo lugar. Em outros, eu largava o tênis na sala e uma meia em cada cômodo. Eu ajudava a cuidar de ambas as casas, porém com ciclos e rotinas completamente diferentes.

Hoje já não moro com meus pais nem sou mais criança. Admito o quão difícil é manter a casa “um brinco”, como diriam nossas avós. A frase: “Uma casa limpa é uma casa sem vida” nunca fez tanto sentido para mim como agora. É um conjunto de manias habitando o mesmo espaço – caso você more sozinho, considere seus níveis de humor – com costumes e tempos diferentes, fazendo a engrenagem rodar.

Não pense que quis dizer que gosto de bagunça, muito pelo contrário. Disse que, por gostar tanto de estar em um ambiente agradável, vi mágica até no organizar. Porque esse ciclo, que exemplifiquei acima, nada mais é que a vida no dia a dia dessa casa, as peças funcionando juntas. A louça do jantar foi limpa e o quarto varrido, enquanto eu acabava de repousar minha xícara de café na pia.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Realização profissional x pessoal

Ultimamente participei ativa e também  indiretamente sobre conversas com os temas: "O que você quer para o seu futuro?"; "Trabalhe com aquilo que ama e não terá de trabalhar." E, ainda: "Corra atrás dos seus objetivos a longo prazo." E todos esses assuntos me fizeram pensar, em círculos.

No meio dessas conversas eu ouvi de alguém: "Meu objetivo é ser feliz." Fiquei com inveja de um objetivo desse em pleno século XXI e não me contive em prestar atenção na conversa. Quando questionado sobre carreira e bens materiais esse mesmo alguém respondeu: "Você não é sua carreira nem o que você tem; você é feliz?" Eu, ouvinte, a moça, ativa na conversa, entramos em conflito existencial, tenho certeza.

Houve um tempo em que eu tinha um salário razoavelmente bom para minha idade, muitos compromissos e estresses  desnecessários para a minha vida pessoal  e muita, muita coisa nova no meu guarda roupa ao final de cada mês. Confesso que chorei por conta do trabalho e não consegui dormir; desejei um final de semana só para mim, com nada para fazer.

Três anos depois eu consegui o que queria  graças à crise  e sinto falta daquele salário razoavelmente bom e roupas que nunca serão usadas. Confesso que dormi, descansei, saí, matei saudades porque eu tive tempo livre, voltei até a ser bastante criativa e nunca mais chorei por estresse - de terceiros.

Me vem à mente, ainda, aquele famoso ditado: "Quem tem tempo e disposição, não tem dinheiro; quem tem dinheiro e disposição, não tem tempo; quem tem tempo e dinheiro, não tem disposição." E parece que, de fato, nunca estamos completamente satisfeitos, é necessário abrir mão de algumas coisas para buscar outras maiores.

Mas, o que são essas coisas maiores? Paro para pensar em realização pessoal e vejo como tantas pessoas a confundem com realização profissional, status, dinheiro. Ter trás uma falsa sensação de alegria que muita gente se esquece que ser é o mais importante, passando, assim, grande ou toda parte de sua vida correndo atrás de preencher a conta bancária, em vez da alma.

Com esse tempo de folga percebi o que andei fazendo errado, podendo assim recomeçar da maneira certa. Seguir o objetivo daquele alguém que eu ouvi certo dia: "Ser feliz." Sem precisar me importar com o que falam e impõem por aí, afinal, o principal objetivo de vida é a felicidade. E eu? Bom, vou correr atrás da minha.

domingo, 28 de maio de 2017

Emma


Quando pequena, nunca tive oportunidade de ter um animal de estimação, além dos peixes Beta que minha mãe me dava. Admirava a dedicação, amor e carinho com que meus amigos e familiares cuidavam de seus cachorros e gatos, sonhando com o dia que eu tivesse o meu, imaginando qual nome daria e como ele seria, fantasiando como seria minha ligação e paciência com ele. 

Nada do que eu imaginei chegou perto do que realmente foi. Eu não escolhi, mas fui escolhida. Minha casa vivia com um gato ou outro a me visitar; até que a Emma chegou e ficou. Nos primeiros dias ela foi chamada de Robin, pois não sabíamos se, de fato, ela era fêmea. Com o tempo, ela foi ganhando espaço em casa, inclusive em cima da cabeça da minha mãe, até finalmente roubar nossos corações. 

Quando ela já estava dominando todo o território que quisesse, Emma começou a ter um sangramento e precisei deixá-la dormir do lado de fora, estávamos tão acostumadas a dividir a cama que não sei qual coração se partiu mais, o meu por não poder mexer nela durante a noite ou o dela por não poder deitar em cima das minhas costas. 

Levei-a ao veterinário, marquei ultrassom; passeamos de ônibus e de Uber, a vi assustada em um ambiente com pessoas que nunca vimos, mas me mantive firme, para acalmar a ela e a mim. Quando ela foi operada, fiquei do lado de fora como uma mãe ansiosa e aflita, a cirurgia acabou rápido, mas a anestesia duraria ainda algumas horas. 

Lembro do veterinário me explicando tudo e o quão difícil seria para minha mãe e eu darmos remédio a ela; passei no petshop para comprar a roupa cirúrgica e os remédios e fomos para casa. Cheguei e a vesti antes que acordasse, mas ela estava tão imóvel que eu, mãe de primeira viagem, chorei copiosamente em desespero, com medo de que ela não acordasse mais.

As primeiras horas após a cirurgia, onde eu dediquei meu dia totalmente a ela, pois ela mal parava em pé, os primeiros dias em que minha mãe e eu facilmente dávamos remédio, toda minha paciência, preocupação e dedicação com um ser que não podia me falar nada, mas deitava no meu colo com aquele ronronar em agradecimento que aquecia meu coração. 

Os dias finais do remédio, onde ela estava forte o suficiente para dificultar o nosso trabalho, quando ela voltou a comer normalmente, miar quando via minha mãe perto do pote de ração, ou suas travessuras em cima do guarda roupa e das taças da cozinha.

Quando chorei e ela ficou ao meu lado, me olhando e colocou minha mão entre suas patas, o que me fez chorar mais ainda. Quando eu deitava na rede para ler, ela dava um jeito de subir e ficar ali, até que ficasse desconfortável e ela descesse e deitasse no chão, ao meu lado. Ou quando eu fazia abdominais e ela se deitava em cima de mim, claro.

Tantos pequenos e infinitos detalhes que vistos de fora não têm importância, mas que você, dona/mãe, mata e morre pelo seu filho de estimação. Você se acostuma, se dói, se preocupa e se desespera por essa pequena vida que lhe foi confiada; nada é tão gratificante quanto tê-lo ali, contigo. 

Só que todo esse ciclo tem um fim e eu também não imaginava como seria a despedida, já vi amigos perdendo seus animais de estimação e achei que eu não sofreria tanto, doce engano... Nenhum tipo de perda é aceitável ou dói menos, não ter seu melhor amigo ali contigo todo dia é desesperador, no início. 

A Emma costumava sair enquanto eu não estava e voltava próximo ao meu horário de chegar, com isso, me acostumei a checar a garagem e o quintal, sempre que chego em casa. Procurei-a quando cheguei, nada. Um dia, dois. Uma semana. Disseram-me que era normal, gatos somem mesmo, mas eu sabia que ela não era disso e me desesperei em constatar que ela não voltaria mais; mesmo assim não deixei de checar minha casa, por costume. Hoje não olho mais, mas quando escuto gatos no telhado prendo a respiração para ver se reconheço o miado dela, é em vão, eu sei, mas é também involuntário. 

Ela se foi, e o pior é não saber para onde, se está bem ou viva, sendo cuidada ou não. De qualquer forma, o amor que senti e aprendi com ela está aqui e ficará guardado para sempre no meu coração. Esse texto foi para guarda-la, o mais detalhadamente possível, na minha memória. 

domingo, 30 de abril de 2017

Aspirante a escritora


Tentando me definir, aos vinte e poucos anos, me autodenominei “aspirante a escritora” e comecei a pensar nisso. O que me faz, de fato, ser ou não escritora é o simples ato de escrever sobre qualquer coisa. A princípio, fiquei triste por pensar que meu único dom é algo simples, que pode ser aperfeiçoado e dominado por qualquer pessoa, então continuei pensando a respeito, sobre quantas pessoas realmente dão importância à escrita, se dedicam e gostam disso e novamente me senti capaz de, em longo prazo, fazer a diferença com isso.

Penso na trajetória que já percorri e no quanto ainda falta, tento lembrar quando decidi me intitular tal coisa e quando o comecei a ser, na prática. Desde criança, os recreios passados na biblioteca, semanalmente, a procura de em qual livro iria me aventurar, foram tantos amigos que carreguei no peito, colo e mochila, que não sou capaz de lembrar todas as histórias. Depois, arrisquei-me a começar a escrever vez ou outra sobre meus dramas adolescente e eis que hoje releio e dou risada – mas também me orgulho de como tão nova eu já conseguia deixar qualquer história banal dramática o suficiente pra se tornar ficção.

Escrever é uma terapia, talvez para quem me leia, mas principalmente para mim, que escrevo. Sou daquelas que faz listas sobre o que é preciso comprar, o que precisa ser feito no decorrer da semana ou de coisas que não posso esquecer. Tenho a ânsia de tirar da minha cabeça alguma coisa que só sai, permanentemente, através da escrita. Seja algo superficial ou importante, precisa ser dito, descarregado. Depois disso passa e quando, por acaso, releio um escrito meu, dou risada de que aquilo tivesse me incomodado a tal ponto.

Incômodo esse que não necessariamente é algo ruim. Este texto é um exemplo disso. Talvez, de fato, eu não seja nada querendo ser alguma coisa. Com absoluta certeza existem centenas de milhares melhores ou mais corajosos que eu nessa arte. Não recebo nada em troca, além da paz que isso me dá, alguns elogios sinceros e tantos outros superficiais. O fato é que discorrer sobre causos, verídicos ou inventados, é a pedra que eu vim a Terra para lapidar. Em uma década de prática ainda não cheguei aonde desejo, mas terei mais alguns pares de vinte anos para chegar lá.

Enquanto isso, eu escrevo sobre o que necessito ou incomoda, o que motiva ou inspira. Escrevo sobre sonhos e vontades, medos e verdades. Crio documentos que vão do anonimato à lixeira, invento histórias e penso que, um dia, as publicarei. Entre uma vírgula e outra vou lapidando esse dom e no percurso (e com sorte) vou tocando o coração de quem compartilha desse mesmo amor comigo, que é poder brincar, se sensibilizar e ser curado através de histórias e palavras.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Amor em signos

Estava pensando sobre o amor.
Em uma conversa entre amigos, falávamos sobre os signos que são apegados e os que são tachados de "sem coração"; quando eu, taurina, comentei a respeito da minha experiência com um aquariano.

Na conversa, discutíamos acerca de como lidar com as amizades com pessoas do sexo oposto, sair ou não sem o companheiro em uma sexta-feira à noite, entre outras coisas. Comentei que, quando namorava, não existia isso de "você não pode", ou "você não vai". Estávamos juntos sem deixar de estarmos livres.

Um amigo – capricorniano – brincando disse que eu poderia ministrar palestras às mulheres, para elas entenderem o que levei meses para entender sobre amor e liberdade. Contei-lhe que aquilo foi um aprendizado e tanto e que, a partir de agora, é pré-requisito indispensável para um relacionamento futuro.

Comentamos, também, sobre homens que namoram, mas se veem "obrigados" a conversar com amigas mulheres às escondidas, para evitar brigas. Mal sabem suas namoradas que eles eram amigos dessas mulheres antes de se tornarem seus namorados; e, além disso, quanto mais proibimos, mais chances damos ao outro de mentir para nós.

Quando meu ex-namorado, aquariano, falava sobre alguma amiga, ou quando eu – taurina – falava de algum amigo, era tão normal como quando discutíamos o sabor da pizza que iríamos pedir ou escolhíamos o que assistir no Netflix. E, devido a essas reflexões me vi, mais uma vez, pensando sobre o amor.

Antes de tudo, amar não é sinônimo de estar junto a alguém. Conhecemos muitos casais que sobrevivem de aparências e por comodidade, o que nada tem de bonito. Conhecemos, também, tantas outras pessoas que se amam o suficiente para estarem juntos, mas não estão.

Certa vez me disseram: "Amar é querer estar o tempo todo juntos, não só quando se quer." Juro que, na ocasião, ri da contradição do meu colega, afinal ele mesmo assumiu que, no fim das contas, estar junto é uma questão de querer. Disse-lhe que o fato de uma pessoa querer estar sozinha um dia, uma semana – ou o tempo que for – não anula o amor dela por outrem.

Refleti sobre o amor pois, quando mais nova, pensava da mesma forma que esse colega; que vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, não é suficiente quando a gente ama. Porém, com o tempo, compreendi que isso nada mais é do que falta de amor e interesse em si próprio, revelando o medo da solidão que existe em toda e qualquer pessoa.

Atualmente – apesar de termos falado sobre signos e suas características no amor – penso que amar nada mais é do que um querer bem. Confiar em alguém, em si mesmo e no relacionamento em que você se encontra. Pois, se você estiver com alguém que é livre o suficiente, existem duas possibilidades: ou essa pessoa sempre voltará para você, não importa por onde ela vá; ou ela não voltará, mas você se ama e a ama o suficiente para ficar feliz pela decisão dela e feliz com sua própria solidão.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Magia de carnaval


Com tanta gente que odeia carnaval, inclusive eu que, por anos, torci o nariz a respeito dessa festa, me dou ao direito de falar sobre e com, talvez, propriedade no assunto. 

Concordo plenamente que o Brasil tem questões maiores e mais importantes a tratar do que mimar os gringos com as belas moças e as músicas baixas do país, mas gente, sério mesmo, vocês não se sentem bem em um evento de carnaval, cantando marchinhas?

Cheguei ao trio elétrico com aquela vontade de estar em casa dormindo ou assistindo Netflix, confesso. Mas as pessoas têm uma energia tão boa, pura e mágica que é impossível que alguma tristeza ou mau humor prevaleça.

Meia dúzia pega o celular para registrar o momento em redes sociais (assim como eu e meu grupo de amigos), mas esses registros são superficiais perto dos sorrisos sinceros que são distribuídos aqui. 

Talvez seja porque eu sou apaixonada por gente e fique viajando no gesto delicado, quase despercebido, de cada um aqui. No carnaval tem coisas ruins? Infinitas. Mas deixe-me falar das boas:

·         Sorrisos constantes e involuntários entre pessoas que nunca trocaram um oi;
·         Cumprimentos calorosos e abraços aos grupos vizinhos;
·         Caça talentos de pessoas que têm um repertório de músicas populares infinitos;
·         Caça talentos de dançarinos natos, que se dedicaram a outras profissões em suas vidas;
·         Compartilhamento de lanche (ou bebidas), no estilo piquenique;
·         Coreografias ensaiadas em casa com a família, funcionando em perfeito sincronismo entre centenas de pessoas.

Dentre mil outras situações compartilhadas, que afetam de maneira singular cada um que está ali. Alguns prestam mais atenção às pessoas, outros às roupas e fantasias, outros prestam atenção nas músicas, alguns que vão procurar um amor que dure após o carnaval.

A grande mágica desses dias é que até mesmo aqueles que vão para curtir como se não houvesse amanhã (e/ou fazer uma lista quilométrica de bocas que beijou) estão entregues a magia que pode acontecer. Se você abrir seu coração, vai perceber que o calor humano presente ali não está somente no sentido físico, vai além, todos ficam conectados como se fossem irmãos.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Lembranças


Ontem fui caminhar no parque da cidade onde moro e vi vários adolescentes com mochila de escola, alguns casais, outros em grupinhos de amigos e fiquei nostálgica, tentando puxar na memória quando era eu ali. Com isso, achei graça de como esquecemos rápido das coisas que não temos o costume de pensar no dia a dia e, depois de alguns anos, quando lembramos daquilo, é como se fosse um sonho distante, quase como se não tivesse acontecido.

Eu já tive um namoro de escola, aonde íamos ao parque depois da aula por não ter dinheiro nem lugar para ir, já passei tardes naquele parque com tantos amigos que, ao tentar me lembrar dos momentos, me escapam alguns. Já fiz trabalhos de escola e até reuniões com a turma do ensino médio, isso tudo me parece tão distante agora.

Com isso, por um lado fiquei triste por não termos (ainda?) um HD externo, que fosse possível salvar tudo o que não cabe em nossa memória, mas que não queremos perder, porque aquele momento valeu ouro. Por outro lado fiquei aliviada, pois ao mesmo tempo em que perdemos momentos felizes, perdemos também medos e mágoas de coisas que passamos, podendo, assim, seguir em frente e repetir os mesmos erros, até que se tornem ações assertivas.

Até ontem eu pensava, sobre alguns momentos muito bons que eu vivi ao lado de pessoas muito boas: "Não posso deixar isso morrer, preciso escrever sobre isso, ou tirar uma foto que seja, para que daqui dez anos eu me lembre de que isso foi real.", mas ontem percebi que não é possível, verdadeiramente, capturar e guardar sentimentos do passado. E não fiquei triste ao constatar esse fato. 

Pelo contrário, me dei conta de que, se eu encher meu "HD" com memórias de um passado, meu presente nunca será bom o suficiente. Isso porque a saudade, bem sabemos, deixa tudo com um tempero adocicado. Se eu passar pela mesma experiência pela oitava vez, comparando-a com as sétimas anteriores, eu já vou esperar um resultado que com certeza será diferente do real e só esse fato vai me deixar frustrada. Agora, se eu me permito apagar essas lembranças, ou melhor, deixa-las em desuso, cada vez que eu fizer uma coisa repetida, mas como se fosse minha primeira tentativa, aquilo será mágico.

É preciso saber deixar que o passado fique em seu lugar, por mais felizes que fomos com todos aqueles amigos, amores e lugares, para que novos amigos, amores e lugares preencham nosso hoje. Aquela lembrança boa não vai se perder mesmo que eu não me agarre a ela porque sempre tem um gatilho (como ontem no parque) que irá despertar essas lembranças. E as que não forem despertadas? Deixe-as ir! Vai ver nem era tão bom assim e não é necessário lembrar-se de tudo. O gosto da saudade pode até ser doce, mas é também um pouco amargo. O gosto do presente é o que se deve buscar sentir.