sexta-feira, 29 de julho de 2016

Super Herói


Então ele disse que não sabe para que diabos irei fazer psicologia, quis responder que vou aprender a lidar com gente difícil como ele, mas a resposta só me ocorreu horas depois. Geralmente não me importo com o que pensam de mim, uma pessoa ou outra em específico me dá vontade de mostrar conquistas e verdades, mas não vale a pena. Nós criamos nossos laços com os outros e demonstramos afeto como aprendemos, conforme alguém já tenha criado conosco um dia.

Há alguns anos ele me escreveu – naqueles caderninhos que pedíamos aos amigos que nos deixassem mensagens fofas, pois no ano seguinte muitos se mudariam de sala e até de escola – dentre algumas coisas fofas, que raramente eram ditas, uma frase que não se fez esquecer: "Não copie os meus defeitos." E agora que atingi certa maturidade para entender e enxergar quais defeitos são esses, faço a lição de casa diariamente para não copiá-lo negativamente.

Por muitos anos o chamei de super herói, mas hoje percebo o quão bom e também o quão humano ele é. Tem qualidades incontáveis e defeitos irritantes. Sabe aquela pessoa que não abraça, mas faz o almoço? Aponta defeitos quando estou presente, por achar que assim vai me incentivar a melhorá-los, mas fala com orgulho para os amigos da bolsa que ganhei na faculdade. E não posso culpá-lo. Como eu já disse, ele só reproduz o que aprendeu.

 Eu aprendi de outra maneira, vendo o que funciona comigo e tentando reproduzir aos próximos. Abraço, incentivo e parabenizo, pois acredito que as chances de alguém fazer algo por reconhecimento e não porque duvidaram dele são bem maiores. Existem aqueles que se superam ao serem desafiados, mas aí a pessoa acaba fazendo pelo outro, não por ela mesma. Acredito que o único motivo pelo qual devemos melhorar ou modificar algo seja porque nós queremos isso.

No fim, nossos laços por vezes não são ligados porque a forma de se comunicar é diferente. Quando o beijo no rosto, ao chegar em casa, estou dizendo que o amo, mas ele não escuta. Quando ele me nega ajuda sobre algo complexo a meu ver, mas que ele considere simples, para que eu aprenda a me virar sozinha, claramente ele está dizendo o quanto me ama, mas ao invés de escutar eu saio batendo o pé.

É difícil interpretar um idioma que não somos fluentes, por outro lado somos extremamente egoístas em querer que o outro nos ame a nossa maneira, sabendo que cada um demonstra a seu modo, como para aquela pessoa deu certo. Ele, por exemplo, é um grande homem que fala do pai com certa mágoa, mas com muito orgulho, diz que é o homem que é hoje, graças ao pai que não lhe facilitou a vida, logo, ele reproduz todo esse ensinamento, pois é a sua maneira de amar. Eu, por outro lado, conto nos dedos e revivo na memória cada: "Filha, eu te amo." Que ouvi daquele homem.