Tento
tocar o notebook com a leveza e perfeição que eu tocaria um piano. Tem um texto
pela metade no primeiro documento aberto, não gostei o suficiente, quero algo
leve, estou tentando de novo. Quando alguém ler isso, precisa ler a minha alma,
precisa ler com a delicadeza que eu aperto as teclas do notebook ao som de boas
músicas com piano ao fundo.
Sinto-me
traidora do Tempo, pregando sempre nossa boa amizade, mas internamente
desejando que ele passe devagar e quase pare – principalmente nessas madrugadas
silenciosas e maravilhosamente minhas – para eu poder ter tempo de ser tudo o
que sonhei desde pequena. Professora, desenhista, cantora, modelista, pianista,
mulher gato, Bela (a da Disney), arquiteta, engenheira, escritora, tocadora da
alma das pessoas (no bom sentido). Quantas vidas eu preciso, senhor Tempo, para
ser tudo isso?
Se
bem que, colocando assim no papel, ficou escancarado na nossa cara (na minha
pelo menos, ficou na sua?!): meu negócio é arte, meu negócio é gente, aqueles
sentimentos que temos quando ouvimos aquela música delicadamente perfeita. Aquele
arrepio que nos dá em público, quando algo toca fundo em nossa alma, que a
gente fica até com vergonha dos pelinhos levantados. Eu gosto de alma, corpo é
bom também, mas quando duas almas se tocam... Puta merda! (Desculpa o palavrão,
mas é muito louco, você sabe).
Não
é curiosidade, maldade, nada disso, é só que hoje em dia somos tantos e temos
tão pouco tempo, andamos tão apressados, ocupados, distraídos e,
principalmente, cansados que quando eu tenho ou presencio essa ligação entre as
pessoas, ainda mais se proporcionada por algum tipo de arte, fico tão feliz que
crio esperanças em nós de novo. Precisamos de coração batendo, acelerando,
parando por uma fração de segundo. Precisamos de mais vida, não necessariamente
mais tempo.
“Quem
não te conhece que te compre.” Deve ter meia dúzia (algumas dúzias) retrucando
por aí. Confesso e peço perdão pelas vezes que não toquei com delicadeza
qualquer um que me lê, mas convenhamos que peco pelo excesso e não pela falta. Acho
um desperdício quando alguém me diz que perdeu a fé na humanidade, que é melhor
ser morno, que melhor não criar expectativas para não se decepcionar. Concordo com
vocês que quebrar a cara é um saco, mas ser feliz é sensacional.
Enquanto
houver uma só pessoa que ame nesse mundo (e sempre haverá) então todos os laços
delicados que nos unem valerão a pena. Cada reação que nossa alma pede ao corpo
que externe vale a pena, nesses momentos entendemos que o Tempo, nosso grande
amigo como eu sempre digo, nada tem a ver com a história. Culpados somos nós que,
querendo possuir o mundo, não dedicamos tempo nem a conhecer nossa própria alma.
Então,
por favor, façamos assim: seremos tudo o que sonhamos, mas acima de tudo: humanos.
Valorize as delicadezas, aquele agudo sensacional, aquele solo viciante de
guitarra, a perfeição do som de um piano... Qualquer coisa que te toque
delicadamente. Vamos nos deixar arrepiar três vezes por dia, excitar a nossa
alma também. Não teremos todo tempo do mundo, mas viveremos todos os segundos
que temos.