segunda-feira, 18 de abril de 2016

Delicadamente


Tento tocar o notebook com a leveza e perfeição que eu tocaria um piano. Tem um texto pela metade no primeiro documento aberto, não gostei o suficiente, quero algo leve, estou tentando de novo. Quando alguém ler isso, precisa ler a minha alma, precisa ler com a delicadeza que eu aperto as teclas do notebook ao som de boas músicas com piano ao fundo.

Sinto-me traidora do Tempo, pregando sempre nossa boa amizade, mas internamente desejando que ele passe devagar e quase pare – principalmente nessas madrugadas silenciosas e maravilhosamente minhas – para eu poder ter tempo de ser tudo o que sonhei desde pequena. Professora, desenhista, cantora, modelista, pianista, mulher gato, Bela (a da Disney), arquiteta, engenheira, escritora, tocadora da alma das pessoas (no bom sentido). Quantas vidas eu preciso, senhor Tempo, para ser tudo isso?

Se bem que, colocando assim no papel, ficou escancarado na nossa cara (na minha pelo menos, ficou na sua?!): meu negócio é arte, meu negócio é gente, aqueles sentimentos que temos quando ouvimos aquela música delicadamente perfeita. Aquele arrepio que nos dá em público, quando algo toca fundo em nossa alma, que a gente fica até com vergonha dos pelinhos levantados. Eu gosto de alma, corpo é bom também, mas quando duas almas se tocam... Puta merda! (Desculpa o palavrão, mas é muito louco, você sabe).

Não é curiosidade, maldade, nada disso, é só que hoje em dia somos tantos e temos tão pouco tempo, andamos tão apressados, ocupados, distraídos e, principalmente, cansados que quando eu tenho ou presencio essa ligação entre as pessoas, ainda mais se proporcionada por algum tipo de arte, fico tão feliz que crio esperanças em nós de novo. Precisamos de coração batendo, acelerando, parando por uma fração de segundo. Precisamos de mais vida, não necessariamente mais tempo.

“Quem não te conhece que te compre.” Deve ter meia dúzia (algumas dúzias) retrucando por aí. Confesso e peço perdão pelas vezes que não toquei com delicadeza qualquer um que me lê, mas convenhamos que peco pelo excesso e não pela falta. Acho um desperdício quando alguém me diz que perdeu a fé na humanidade, que é melhor ser morno, que melhor não criar expectativas para não se decepcionar. Concordo com vocês que quebrar a cara é um saco, mas ser feliz é sensacional.

Enquanto houver uma só pessoa que ame nesse mundo (e sempre haverá) então todos os laços delicados que nos unem valerão a pena. Cada reação que nossa alma pede ao corpo que externe vale a pena, nesses momentos entendemos que o Tempo, nosso grande amigo como eu sempre digo, nada tem a ver com a história. Culpados somos nós que, querendo possuir o mundo, não dedicamos tempo nem a conhecer nossa própria alma.

Então, por favor, façamos assim: seremos tudo o que sonhamos, mas acima de tudo: humanos. Valorize as delicadezas, aquele agudo sensacional, aquele solo viciante de guitarra, a perfeição do som de um piano... Qualquer coisa que te toque delicadamente. Vamos nos deixar arrepiar três vezes por dia, excitar a nossa alma também. Não teremos todo tempo do mundo, mas viveremos todos os segundos que temos.