sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sonho de criança


Descobri por que a gente acha que não é feliz. Criança acha que pra ser feliz tem que morrer, não vê meio termo, ou vai ou racha, é agora ou nunca. Já os adultos precisam sofrer pra sustentar esses sonhos então, por tanta ocupação, muitas vezes acabam esquecendo de ser feliz. Adultos acham que se pode ser feliz amanhã, crianças sabem que não. Hoje é o último dia.

A gente tem que aprender a ser adulto por fora e gente pequena por dentro. É bom ser pequeno, quem disse que não? A gente cabe em qualquer lugar, em qualquer sonho. Tudo está bom e quando não tá a gente chora só um pouquinho que passa. Criança é tão pura que parece imaginação da gente, tão frágil que dá medo de tocar e ela evaporar.

Mas é verdade, ela evapora e vai embora. Seja um adulto que não toca na sua criança interior, eu te garanto, se você tentar domá-la ela foge! A criança que manda na casa, na vida, no sorriso, a tua criança sabe amar você, somente ela. E aprendendo com ela o significado de amar, você fica tão forte que ama o mundo.

Sonhe que o mundo cabe em suas mãos, sonhe que todos somos irmãos, sonhe que tudo que há na ficção é real, acorde sabendo que de alguma forma tudo aquilo é seu, porque seu pai te deu, então aceite sem reclamar e vá sofrer, mas sofra com o sorriso no rosto, pra sua criança não morrer jamais e ensinar ao mundo todo o poder do amor.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Realidade particular


O sofrimento pode ser o caminho através do qual chegamos às nossas verdades. A estrada pela qual chegamos à maturidade atravessa, necessariamente, a escuridão e a solidão. A escuridão, porque sofrer implica perder as referências, desdenhar das explicações, questionar os clichês e aventurar perguntas. A escuridão é o momento quando não caminhamos porque vemos, mas porque intuímos, recordamos e temos fé. Intuímos o rumo certo pelo tanto que já caminhamos, recordamos as experiências aprendidas em momentos semelhantes no passado e andamos por fé, que supera as trevas, prescinde de explicações e transcende as certezas.

A solidão é imprescindível na trilha do sofrimento. A dor pode ser compartilhada, mas jamais transferida. Pode ser percebida, mas não capturada. Pode até ser escondida, mas nunca suprimida. Quem sofre, sofre sempre em solidão. Não necessariamente porque lhe falta boa e providencial companhia, mas porque todo sofrimento pessoal, em sua dimensão mais profunda e essencial, é intransferível. O sofrimento tem sua realidade particular, e não pode ser diferente: cada um sofre por uma razão, é vitimado em áreas distintas, por motivos diversos e com respostas as mais variadas, num dégradé de resiliência que vai da meninice do chororô ao heroísmo quase estóico, incluído entre os tons das cores a grandeza da fé, resignada e esperançosa, e por isso engajada e mobilizadora.

O sofrimento desperta para o ético e o estético. Convoca virtudes adormecidas a que subam ao palco: coragem, perseverança, paciência, honradez, respeito à vida. Possibilita o lapidar do caráter, apara arestas, harmoniza as formas, faz irromper a beleza escondida na frieza do coração. O sofrimento quebranta orgulhosos, vaidosos e prepotentes, faz desmoronar intransigentes, legalistas e moralistas. Como o martelo do escultor, retira os excessos da pedra e dá à luz o belo, o sublime, o deslumbrante.

Quem sofre descobre seus limites, identifica verdadeiras amizades, vislumbra novos horizontes, abre a mente para novas verdades e o coração para novos amores. O sofrimento produz compaixão, evoca misericórdia, gera solidariedade. O sofrimento cria caminhos para arrependimentos e confissões, subverte juízos e sentenças, possibilita aproximações e reconciliações.

O sofrimento coloca homens, mulheres, velhos e crianças, de joelhos. Faz com que os olhos procurem os céus. Dilata a alma para o mistério, conclama o espírito para o inefável, inspira poesias e canções, faz surgir nos lábios o perfeito louvor. Quem sofre aprende a perdoar e pedir perdão. Ganha a oportunidade de colocar o rosto no chão, em clamor e oração. O sofredor jamais chora em vão. Deus habita também a sombra e a escuridão.

O sofrimento é o ônus do viver, o custo do amor, a paga pelo crescimento, o preço da maturidade. Viver é muito perigoso, já dizia Guimarães. Amar é muito precioso. Crescer é muito doloroso. Amadurecer é muito custoso. Crer é coisa de teimoso. O sofrimento diminui o poder da morte, dissolve a crueldade da indiferença, envergonha a pequenez da alma, desmascara o mundo de mentirinha da ingênua infância, quebra a maldição da incredulidade. Aceitar a realidade e inevitabilidade do sofrimento é escolher a vida, decidir amar, optar pela plenitude, apostar na fé.

Redigido por Airton Lucas.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pensamento positivo


Esse domingo fui à missa e o padre disse que temos que fazer o bem para as pessoas e nos sentirmos bem simplesmente pelo ato. Se sentir feliz ao ver o próximo feliz e se arrepender quando fizermos o mal, por ou sem querer. Concordei completamente, não só na questão religiosa, pois é exatamente o que Deus quer de nós, mas também na questão pessoal, pois deveria ser o que nós esperamos de nós mesmos.

Mas, como tudo que é bom só funciona na teoria, essa lição de vida não seria diferente. Sabemos que há o egoísmo presente na vida de quase todo ser humano: “Está bom pra mim, então está ótimo.” Coisa chata pensar assim. Outro defeito do século XXI que encontramos numa frase bem clichê: “Use as coisas, ame as pessoas.” Infelizmente a gente anda invertendo a coisa.

Uma pergunta que deveríamos fazer a nós mesmos toda manhã antes de levantar da cama: “Como vou ser e dar o meu melhor hoje?” E se empenhar em respondê-la ao longo do dia. Gente que reclama o tempo todo tem que aprender que não vai mudar nada. Seu ônibus não vai voltar pra te buscar, se você esqueceu as chaves, elas não vão aparecer magicamente na sua bolsa só porque você falou meia dúzia de palavrões e culpou meio mundo pela desgraça que já começou logo cedo. Poupe a si mesmo, ou pelo menos, poupe os outros de ter que ter uma pessoa desagradável por perto.

“Pensamentos positivos atraem coisas positivas.” Foca nisso porque o contrário também funciona. Se sua vida é ruim eu te pergunto: “Seus pensamentos são ruins?” Se a resposta foi sim, má notícia meu amigo: o problema é você e não o mundo. Então, antes tarde do que mais tarde ou nunca, para! Deus existe e isso já é motivo de uma felicidade imensurável. 

Veja o lado bom de tudo, como a Pollyanna (se ainda não leu, vai pegar agora na biblioteca) e pense que se está acontecendo é porque tem que acontecer então aceite, reclamar não vai fazer com que o universo conspire ao seu favor, muito pelo contrário, vai fazer com que você seja mais mau humorado ainda. Agradeça a Deus tudo o que vier, pois assim a reação em cadeia será de coisas boas.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sinônimo de amor, carinho e proteção


Mãe e seus sinônimos perfeitos: anjo da guarda, protetora, melhor amiga, rainha, princesa, mulher, leoa, sonhadora, guerreira, dedicada... Toda e qualquer palavra que significa amor, carinho e proteção.

A intuição, a desconfiança, os desejos, as ânsias de vômito, o teste barato de farmácia, o sim, a esperança, o ginecologista, mais um teste, a certeza. A felicidade inexplicável (apesar do medo, muitas vezes), a espera, o crescimento da barriga mais paparicada do momento. O primeiro chute, os incansáveis chutes, as contrações, o cordão umbilical, o nascimento. O choro, a primeira troca de olhar, a sensação de explodir de amores, o porquê da sua existência.

A linha entre ser mãe e ser filho é tênue. Quando a gente cresce, acha que pode ir contra o mundo, abre as asas e lança voo, as mães (em 90% das vezes) quase grudam nossas asas para não partirmos cedo ou de preferência, nunca. Estamos com 30 anos e elas ainda nos chamando de bebês.

Anos mais tarde, com 50 talvez, a gente começa a perceber que infelizmente a mãe tem um defeito: não é imortal. Tentamos voltar no tempo e desfazer todos os erros cometidos com essa mulher maravilhosa, ou pelo menos fazer com que o tempo pare agora.

Muitas vezes, nossas mães se vão sem que a gente tenha voltado pro ninho. Às vezes, elas partem achando que não as amávamos, que não as queríamos por perto, mas foi pura imaturidade de entender que saímos pra construir a nossa própria vida.

Mal sabem o que nós passamos pra sair, o que nós passamos longe e o que passaremos para sempre sem aquela mãe e todos seus infinitos sinônimos de amor, carinho e proteção. Mal sabem que desde a partida agradecemos a elas cada batida do nosso coração.

Mãe, que a gente briga muitas vezes, mas longe defende com unhas e dentes. Mãe que a gente cuida, reza e chora baixinho toda noite: “Por favor meu Deus, não leva a minha mãe embora, nunca.” Mãe que, protetora ou relaxada, mandona ou amiga, é a primeira pra quem corremos a cada dificuldade e a cada alegria.

Um dia a gente cresce e vai embora, vira pai e mãe também, dá a volta ao mundo, arruma as malas e some de casa, mas não importa o tamanho da distância, não há no mundo conexão maior do que a de a mãe e um filho, ela começou a ser criada naquela intuição, naquele: “Acho que estou grávida.” E se fortalece durante toda a vida. Mãe, se eu estiver na China, mas precisar de você, eu sei: vais acordar sozinha no meio da noite e ligar pra mim.

sábado, 8 de junho de 2013

Realidade transitória


Ouvi dizer que, quando a gente acostuma a voltar, desaprendemos a andar pra frente. Mas é que, difícil pisar onde não se vê. Voltar, mesmo que o caminho seja cheio de pedras, sabemos o que há ali e sabemos onde pisar.

Uma teoria ótima que inventei (mas que faz sentido) pra não procurar mais, de jeito nenhum, é que: “A realidade de ontem não é a de hoje.” Porque, pode até ser que éramos amigos, mas o verbo está no passado, hoje a gente é nada. Verbo no presente.

Não faz o menor sentido eu voltar pro primário, refazer minha catequese, parar minha melhor amiga do prézinho na rua e contar pra ela como foi a balada ontem. Essas coisas não são mais verdades, então maldita vontade de ligar, suma.

Ligar, nesse momento ou em qualquer outro que virá, verbo no futuro, seria como meu eu adulto procurar alguém que conheceu meu eu criança e logo, era criança também, mas agora é adulto. Esses adultos não se conhecem nem se gostam.

A gente chora e faz drama quando as coisas acabam, mas se não faz mais sentido acaba naturalmente, se não caminha pro mesmo lado, afasta, desencontra, descompassa, some. Um dia a gente até vê na rua, mas faz tanto tempo que você se pergunta: “Será que aquilo foi real?” E se foi ou não, sinceramente, tanto faz.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Nove anos



Me vi andando de bicicleta na rua de casa, rua que moro há oito anos. Me vi, com dezenove, de short e camisa, sem maquiagem e cabelos soltos voando conforme eu pedalava. Me vi nua, mas não no sentido literal. Só sem maquiagem, sem pudores, simplesmente coberta com qualquer peça de roupa sem pensar o que aquela vizinha fofoqueira ia pensar de mim.

Veja lá, dezenove agora, não nove, mas ainda querendo ser a professorinha que tem uma casa com jardim. Ainda cantando com o frasco de perfume se passando por microfone quando fico sozinha e dormindo com ursinho, acredite se quiser.

Um tempo atrás percebi que entrei no caminho errado e a vida de adulto faz isso com a gente, só se olhando no espelho, espelho, espelho... Quando se olha pra dentro: fútil! Vi e ouvi que a beleza nada importa se só existe por fora, em contrapartida, quem é lindo por dentro, transborda e mesmo que feio, ninguém vê.

Já pensei em usar um português difícil pra impressionar vocês, morrer de trabalhar pra ter um carro bacana e uma casa que comportaria trinta de mim, só pra você ir tomar o chá da tarde e morrer de inveja. Depois, ao me ver com dezenove desse jeito como se tivesse nove, desisti disso tudo, pra ser a professorinha que tem uma casa com jardim.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Caber



Sempre tem um divisor de águas, o que você era antes e o que você se torna. O que quer dizer, talvez naturalmente, que vocês não foram feitos para ficar juntos porque não cabe mais, não faz mais feliz, outra pessoa começa a caber.

Não existe essa de ser feito pra ficar junto, ser a tampa da panela, amor eterno e pronto. Isso tudo foi inventado pra quem vive acomodado se sentir feliz. Nem falem que sou fria demais, sou realista, tudo que não cabe mais eu jogo fora. Roupa, sapato, lembrança.

Acho tão feio quem não joga. Sai com roupas do verão passado, usa sapato apertado, fica ao lado de gente que não faz feliz. Coisa incômoda essa de viver no lugar errado. O tempo é presente, passado morreu faz um segundo.

Eu tive amigos que duraram anos e alguns foram coisa de momento, os de momento, quase sempre, foram os mais verdadeiros. Porque ficaram cem por cento do começo ao fim. Não teve desgaste, não teve ninguém soltando o outro lado de pouquinho em pouquinho. E sem paranoia na hora de ir embora, entende? Não se apegue ao que não funciona mais.

Gente que inspira. Que faz minha bochecha ficar rosa, meu coração até bater diferente de vez em quando, inspira a ler, criar, imaginar, até vontade de dançar me dá. Se essa pessoa vai embora em dois ou dez dias ou ficará para sempre? Não importa. Enquanto couber eu vou vestir.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pelos lados



Só pra não esquecer como a liberdade é boa. Sorrir, rir até doer a barriga e a bochecha. Andar descalça. Sentir o vento batendo no teu corpo e voar. Ir a qualquer lugar sem tirar os pés do chão. Sonhar e não deixar ninguém entrar no meio disso.

Só pra não esquecer também que ninguém é dono de ninguém. Que ciúme só é bonito em novela e que o amor pode acabar a qualquer momento. Ouvi dizer que amor é igual jardim e se não cuidar ele morre, faço meus votos pra que isso seja reconhecido mundialmente.

Verdade. Ou você acha que as coisas sobrevivem sem cuidados? Olha amigo, eu não sobrevivi e fui embora. Sai tão clara que não quero nem olhar pra trás. Triste te dizer, mas foi como se eu tivesse sido libertada. E ai de você se disser que isso é dor de cotovelo.

A dor veio antes de eu me olhar no espelho. Antes de eu perceber, mais uma vez, que é errado depositar a vida na vida do outro. A nossa vida a nós pertence. Portanto, dei tchau ao comodismo e caminhei ao meu encontro.

Viver comigo é tão bom que vou fazer exatamente como disse Clarice Lispector: "Não procure alguém que te complete. Complete a si mesmo e procure alguém que te transborde." Alguém que também se ame tanto e que juntos, a gente faça cair felicidade pelos lados.