Me vi andando de bicicleta na rua de casa, rua que moro há oito
anos. Me vi, com dezenove, de short e camisa, sem maquiagem e cabelos soltos
voando conforme eu pedalava. Me vi nua, mas não no sentido literal. Só sem
maquiagem, sem pudores, simplesmente coberta com qualquer peça de roupa sem
pensar o que aquela vizinha fofoqueira ia pensar de mim.
Veja lá, dezenove agora, não nove, mas ainda querendo ser a
professorinha que tem uma casa com jardim. Ainda cantando com o frasco de
perfume se passando por microfone quando fico sozinha e dormindo com ursinho,
acredite se quiser.
Um tempo atrás percebi que entrei no caminho errado e a vida
de adulto faz isso com a gente, só se olhando no espelho, espelho, espelho... Quando
se olha pra dentro: fútil! Vi e ouvi que a beleza nada importa se só existe por
fora, em contrapartida, quem é lindo por dentro, transborda e mesmo que feio,
ninguém vê.
Já pensei em usar um português difícil pra impressionar
vocês, morrer de trabalhar pra ter um carro bacana e uma casa que comportaria
trinta de mim, só pra você ir tomar o chá da tarde e morrer de inveja. Depois,
ao me ver com dezenove desse jeito como se tivesse nove, desisti disso tudo,
pra ser a professorinha que tem uma casa com jardim.
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