domingo, 22 de maio de 2016

Solidão

Existe crise dos vinte e dois anos? Pois se existe, nela entrei, e de cabeça. Não me orgulho em dizer que passei as primeiras horas da madrugada do meu aniversário chorando, e pelo motivo mais horrível do mundo: saudades. Quem disse que isso é bom, é um tremendo de um masoquista.

Aliás, sentir saudades aos vinte e dois é quase suicídio. Além dos dias atuais, onde ninguém tem tempo para nada, pois quanto mais ocupado, melhor. Nós, na casa dos vinte e alguma coisa não somos mais jovens ou adolescentes com tempo livre de sobra, tampouco somos adultos estabilizados e cheios de certezas (alguém aí com mais sabedoria consegue me dizer se algum dia, de fato, seremos?).

Chorei porque quero presença, não presente, visitas, não recados. Mas quem tem tempo? Quem, em seus vinte e tantos consegue parar seus compromissos para passar a tarde com um amigo? Quero ver minha melhor amiga da segunda série, a da quarta, da sétima e do ensino médio também. A amiga que conheci no cursinho, em resumo, todas as pessoas que se doaram e que me doei ao longo dessas duas décadas.

Mas, como? Depois das 22h eu posso, mas a Ana sai da faculdade quase 23h. No período da manhã eu também posso, mas a Jordana e o Diego, por exemplo, trabalham. Quarta eu posso, mas o Carlos tem trabalho de faculdade para fazer. Sábado a Ana pode, mas olha só: quem não pode sou eu. Sem contar que além dos horários que não batem, tem aqueles que se mudaram e ficaram ainda mais distantes.

Parece um jogo de The Sims, daqueles que temos missões semanais (desculpe-me pela comparação, mas procure o sentido), você quer jogar (entenda: viver) da maneira que bem entender, aproveitar os passatempos e gastar com o que quiser, porém você tem sempre uma missão pendente. Na casa dos vinte (em diante e para sempre) vêm primeiros as obrigações, depois o lazer, acontece que, uma obrigação gera outra e sempre deixamos o que queremos para depois.

"Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão." E não é egoísmo, talvez nem seja escolha, mas obrigação. Chorei porque aqueles que amo não estão presentes, mas e eu, estou presente na vida dos que me amam? Sinto falta de uma mensagem de bom dia, de um abraço de algum amigo, mas quantas vezes passei o dia no trabalho, sem responder qualquer mensagem, ou deixei de sair com alguém, para dormir de tão cansada?

Às vezes me pego planejando o futuro (e me odeio por fazer isso com tanta frequência), mas vou de um futuro próximo, até anos e anos que virão, daqui a pouco vivi a vida inteira e me matei, só na imaginação. Acontece que me pergunto se, daqui alguns anos, será sempre assim, se continuaremos sem tempo para os outros, mas já sei a resposta: sim. Os adultos mais sábios nos estampam a resposta na cara, com suas agendas cheias de compromisso.

Quem dera tivéssemos disposição, dinheiro e, principalmente, tempo para estarmos sempre presentes na vida daqueles que amamos. O que me resta fazer é, com certa dificuldade, aceitar que cada um tem sua batalha para ganhar, que alguém não me ama menos porque não fala comigo há tempos, ou que eu ame alguém menos porque preferi descansar depois de um dia longo de trabalho. Dentro de cada um, devemos sentir e agradecer pelo amor daqueles que foram tão presentes que nem décadas de ausência irão apagar.