sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Engrenagem


Acordei às dez horas e fui ao mercado. Voltei, comecei a arrumar a casa e a colocar em dia algumas coisas pessoais. Sentei-me para tomar um café e então percebi que já eram sete da noite, e que era a quarta vez que parava para comer. Assustei-me ao notar como nosso tempo voa enquanto nos mantemos ocupados com coisas que gostamos.

Pensei no varal cheio de roupas que havia acabado de estender, e me lembrei que antes disso eu havia precisado recolher as que já estavam secas. Rindo, me perguntei quando é que aquele varal estaria sem roupa alguma, até que conclui que a resposta seria nunca.

Comparei uma casa a uma engrenagem. São infinitas coisinhas que precisam ser refeitas dia após dia, mas em uma ordem onde nada vai acabar junto. O ciclo: cozinhar, lavar, passar, limpar, guardar (...) não é sequencial. Enquanto a louça está limpa, o quarto já está por varrer; quando a roupa está no varal, já é necessário limpar o fogão.

Você deve estar se perguntando porque, em pleno sábado, estou falando sobre cuidar da casa. Permita-me explicar: cresci entre dois extremos. Filha de uma amizade colorida, sempre tive duas casas, uma com um pai extremamente metódico, para não dizer perfeccionista; e outra com uma mãe extremamente esquecida, que não se incomodava tanto com bagunça.

Com isso, nunca percebi a mágica na funcionalidade de uma casa. Em alguns dias da semana eu precisava decorar o ângulo certo de cada coisa em cima da mesa, antes de retirá-la, para poder voltá-la ao mesmo lugar. Em outros, eu largava o tênis na sala e uma meia em cada cômodo. Eu ajudava a cuidar de ambas as casas, porém com ciclos e rotinas completamente diferentes.

Hoje já não moro com meus pais nem sou mais criança. Admito o quão difícil é manter a casa “um brinco”, como diriam nossas avós. A frase: “Uma casa limpa é uma casa sem vida” nunca fez tanto sentido para mim como agora. É um conjunto de manias habitando o mesmo espaço – caso você more sozinho, considere seus níveis de humor – com costumes e tempos diferentes, fazendo a engrenagem rodar.

Não pense que quis dizer que gosto de bagunça, muito pelo contrário. Disse que, por gostar tanto de estar em um ambiente agradável, vi mágica até no organizar. Porque esse ciclo, que exemplifiquei acima, nada mais é que a vida no dia a dia dessa casa, as peças funcionando juntas. A louça do jantar foi limpa e o quarto varrido, enquanto eu acabava de repousar minha xícara de café na pia.