quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Lembranças


Ontem fui caminhar no parque da cidade onde moro e vi vários adolescentes com mochila de escola, alguns casais, outros em grupinhos de amigos e fiquei nostálgica, tentando puxar na memória quando era eu ali. Com isso, achei graça de como esquecemos rápido das coisas que não temos o costume de pensar no dia a dia e, depois de alguns anos, quando lembramos daquilo, é como se fosse um sonho distante, quase como se não tivesse acontecido.

Eu já tive um namoro de escola, aonde íamos ao parque depois da aula por não ter dinheiro nem lugar para ir, já passei tardes naquele parque com tantos amigos que, ao tentar me lembrar dos momentos, me escapam alguns. Já fiz trabalhos de escola e até reuniões com a turma do ensino médio, isso tudo me parece tão distante agora.

Com isso, por um lado fiquei triste por não termos (ainda?) um HD externo, que fosse possível salvar tudo o que não cabe em nossa memória, mas que não queremos perder, porque aquele momento valeu ouro. Por outro lado fiquei aliviada, pois ao mesmo tempo em que perdemos momentos felizes, perdemos também medos e mágoas de coisas que passamos, podendo, assim, seguir em frente e repetir os mesmos erros, até que se tornem ações assertivas.

Até ontem eu pensava, sobre alguns momentos muito bons que eu vivi ao lado de pessoas muito boas: "Não posso deixar isso morrer, preciso escrever sobre isso, ou tirar uma foto que seja, para que daqui dez anos eu me lembre de que isso foi real.", mas ontem percebi que não é possível, verdadeiramente, capturar e guardar sentimentos do passado. E não fiquei triste ao constatar esse fato. 

Pelo contrário, me dei conta de que, se eu encher meu "HD" com memórias de um passado, meu presente nunca será bom o suficiente. Isso porque a saudade, bem sabemos, deixa tudo com um tempero adocicado. Se eu passar pela mesma experiência pela oitava vez, comparando-a com as sétimas anteriores, eu já vou esperar um resultado que com certeza será diferente do real e só esse fato vai me deixar frustrada. Agora, se eu me permito apagar essas lembranças, ou melhor, deixa-las em desuso, cada vez que eu fizer uma coisa repetida, mas como se fosse minha primeira tentativa, aquilo será mágico.

É preciso saber deixar que o passado fique em seu lugar, por mais felizes que fomos com todos aqueles amigos, amores e lugares, para que novos amigos, amores e lugares preencham nosso hoje. Aquela lembrança boa não vai se perder mesmo que eu não me agarre a ela porque sempre tem um gatilho (como ontem no parque) que irá despertar essas lembranças. E as que não forem despertadas? Deixe-as ir! Vai ver nem era tão bom assim e não é necessário lembrar-se de tudo. O gosto da saudade pode até ser doce, mas é também um pouco amargo. O gosto do presente é o que se deve buscar sentir.