terça-feira, 19 de maio de 2020

Dos sonhos que carrego


Nessa madrugada aconteceu comigo algo que há muito tempo não acontecia – eu não conseguia dormir porque um texto me veio à cabeça e um misto de ansiedade para vê-lo pronto e o medo de perdê-lo enquanto adormecesse e acordasse amanhã e ele já não fosse o mesmo que é agora me fez abrir os olhos e começar a dá-lo forma.

Antes de começar a escrevê-lo, coloquei minha Playlist preferida para dormir "Piano calmo", no Deezer, e fiquei pensando em fazer minha própria versão compactada dela para poder baixar e ouvi-la off-line para economizar bateria; ainda focada na Playlist meu cérebro me lembrou que um dos meus sonhos é aprender a tocar piano.

Sim, essa Playlist me acalma, mas às vezes ela me recorda de todos os sonhos que eu ainda quero realizar e do quanto de idade eu já carrego em mim, mas eis que hoje eu percebi a cruel ironia dessa vida de menosprezar o que se tem e desejar tanto o que não se tem em vez de simplesmente admirá-lo.

Por exemplo, recentemente tentei pintar meu cabelo de rosa e foi um total fracasso, visto que coloro meus fios com preto azulado há anos; por mais que me dissessem que "ficou bom, é só ir clareando" eu não tenho paciência e o meu rosto não combina (na minha opinião) com tons claros. Passei o preto azulado e me senti linda. Entrei no Instagram e vi uma menina de cabelo rosa e achei lindo, então lembrei de uma frase "você não precisa ser bonita como ela, você pode ser bonita como você" e sorri, satisfeita e aliviada.

Assim são também todos os outros âmbitos da vida! Ok, eu quero tocar piano, aprender francês e viajar o mundo, não há problemas nisso, mas eu não posso tirar o valor do meu dom da escrita, do meu inglês avançado/fluente, dos meus meses nos EUA que deram errado.

Olha esse blog aqui, todo abandonado! Um dos maiores prazeres da minha vida foi tirado de mim, e o pior, por mim mesma! Como eu pude deixar que influências externas me fizessem apagar, desistir, desanimar, desfocar de algo que – modéstia à parte – eu era tão boa? Como eu quero aprender a tocar piano se mal toco as teclas ou a caneta para fazer o que eu mais gosto? Me aperfeiçoar no que já sei?

O que eu quero dizer nesse texto, talvez intimamente para mim mesma, é que aquele ditado de que "não dá pra ser bom em tudo" é real. Quantas vezes, quando mais nova, eu pensei que precisaria de mais vidas para realizar tudo o que sonho. Mas, percebi hoje, que nem de todos esses sonhos é meu papel ser protagonista, mas espectadora. Eu não preciso saber fazer o que eu amo, só porque eu amo se posso admirá-lo sem possuí-lo. Assim como eu não posso perder os dons que eu já tenho, não pretensiosamente esperando que alguém me admire, mas porque escrever além de ser o que eu amo, me faz ser quem eu sou.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A vida é um instante

Planejar o futuro é desprender uma energia a qual poderia ser muito melhor aproveitada em qualquer outro âmbito da vida; cresci ouvindo do meu pai a seguinte frase: "Se eu estiver vivo até lá." em resposta a qualquer planejamento que fosse maior de vinte e quatro horas.

No último ano eu vivi na pele o exemplo de um planejamento jogado no lixo; fiz as malas e me mudei com "meu futuro decidido por um ano", sem me dar conta de que não sou eu quem decide nada. O futuro não me pertence, imprevistos acontecem o tempo todo.
Antes eu tivesse embarcado nessa etapa da vida - que duraria um ano, a princípio - com o pensamento de viver cada dia como se fosse o último em vez de planejar o próximo mês, o próximo pagamento, a próxima viagem, pois nem sempre existe tempo para a próxima coisa.

Não desmereço que tracemos metas a médio e longo prazo, porém o foco precisa ser no ponta pé inicial, no que precisa ser feito hoje para atingir tal resultado, afinal a única coisa que nos é certa é o dia de hoje, é preciso aprendermos a aproveitá-lo e aproveitar todas as situações nele contidas - boas ou ruins.

Muitos de nós desperdiça o hoje com lembranças e remorsos, sonhos sem planejamentos, frequentemente reclamando da rotina e da vida que se leva, até que esse presente se torne passado e possamos então sentir falta disso tudo (tudo esse que enquanto era presente, não foi apreciado).

Hoje, um ano após aquele que seria "o ano da minha vida", penso com um sorriso que realmente esse foi o ano da minha vida. Não foi como eu sonhei ou planejei, mas foi muito melhor. Infinitamente mais difícil, mas me trouxe coisas e pessoas que, se eu tivesse planejado ou imaginado, não teria o feito com tanto zelo e perfeição.

Tendo vivido isso na pele, só posso dizer que levarei para a vida o ensinamento tão conhecido por nós de que a vida é um instante. Ela passa rápido diante os nossos olhos e é preciso estar atento com os sentidos no momento presente para saber reconhecer, apreciar e ser grato por cada pequeno presente que o próprio presente nos dá. Pois o futuro? Como diria o meu velho: o futuro à Deus pertence.