Ontem
fui caminhar no parque da cidade onde moro e vi vários adolescentes com mochila
de escola, alguns casais, outros em grupinhos de amigos e fiquei nostálgica,
tentando puxar na memória quando era eu ali. Com isso, achei graça de como
esquecemos rápido das coisas que não temos o costume de pensar no dia a dia e,
depois de alguns anos, quando lembramos daquilo, é como se fosse um sonho
distante, quase como se não tivesse acontecido.
Eu já
tive um namoro de escola, aonde íamos ao parque depois da aula por não ter
dinheiro nem lugar para ir, já passei tardes naquele parque com tantos amigos
que, ao tentar me lembrar dos momentos, me escapam alguns. Já fiz trabalhos de
escola e até reuniões com a turma do ensino médio, isso tudo me parece tão
distante agora.
Com
isso, por um lado fiquei triste por não termos (ainda?) um HD externo, que
fosse possível salvar tudo o que não cabe em nossa memória, mas que não
queremos perder, porque aquele momento valeu ouro. Por outro lado fiquei
aliviada, pois ao mesmo tempo em que perdemos momentos felizes, perdemos também
medos e mágoas de coisas que passamos, podendo, assim, seguir em frente e
repetir os mesmos erros, até que se tornem ações assertivas.
Até
ontem eu pensava, sobre alguns momentos muito bons que eu vivi ao lado de
pessoas muito boas: "Não posso deixar isso morrer, preciso escrever sobre
isso, ou tirar uma foto que seja, para que daqui dez anos eu me lembre de que
isso foi real.", mas ontem percebi que não é possível, verdadeiramente,
capturar e guardar sentimentos do passado. E não fiquei triste ao constatar
esse fato.
Pelo
contrário, me dei conta de que, se eu encher meu "HD" com memórias de
um passado, meu presente nunca será bom o suficiente. Isso porque a saudade,
bem sabemos, deixa tudo com um tempero adocicado. Se eu passar pela mesma
experiência pela oitava vez, comparando-a com as sétimas anteriores, eu já vou
esperar um resultado que com certeza será diferente do real e só esse fato vai
me deixar frustrada. Agora, se eu me permito apagar essas lembranças, ou
melhor, deixa-las em desuso, cada vez que eu fizer uma coisa repetida, mas como
se fosse minha primeira tentativa, aquilo será mágico.
É
preciso saber deixar que o passado fique em seu lugar, por mais felizes que
fomos com todos aqueles amigos, amores e lugares, para que novos amigos, amores
e lugares preencham nosso hoje. Aquela lembrança boa não vai se perder mesmo
que eu não me agarre a ela porque sempre tem um gatilho (como ontem no parque)
que irá despertar essas lembranças. E as que não forem despertadas? Deixe-as
ir! Vai ver nem era tão bom assim e não é necessário lembrar-se de tudo. O
gosto da saudade pode até ser doce, mas é também um pouco amargo. O gosto do
presente é o que se deve buscar sentir.
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