quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O último dia

Acabei de voltar da faculdade, pela última vez, enquanto aluna, daqui cinco dias apresentarei meu TCC remotamente e, então, só retorno para buscar meu certificado de conclusão de curso. Ao sair de lá, passei pelo estacionamento devagar enquanto admirava o prédio e deixava o turbilhão de emoções invadir meu corpo, no caminho pra casa fui invadida com milhares de lembranças desses cinco anos e meio de percurso.

Durante esse semestre, brinquei com meus colegas de curso e amigos mais íntimos falando que não estava preparada para sair do posto de estudante de psicologia para tomar o de psicóloga e, é uma mudança drástica, mas que, de fato, foi acontecendo aos poucos, com o passar da graduação. O que eu não havia pensado, até agora, era sobre o caminho percorrido e hoje todas essas lembranças me fizeram sentir algo completamente inédito, único na minha vida, até então.

Descrevi ao meu amigo como: “Uma nostalgia, mas é uma mistura de alegria com tristeza e orgulho; muito feliz, mas muito aperto no coração.”. Dá pra perceber o quão difícil está sendo processar todos esses sentimentos. A alegria de chegar ao final de um curso difícil e de duração tão longa; a tristeza de parar de estudar aquilo que, por tantos anos, foi meu foco principal; orgulho por ter conseguido, não só entrar, mas permanecer até o fim; a felicidade em imaginar as possibilidades e próximos passos; o aperto no coração de não ter mais essa atividade na minha rotina.

Meu amigo me respondeu com uma percepção muito inteligente: “É quase como uma Síndrome de Estocolmo se você parar pra pensar, né? É um lugar que você vai pra sofrer tanto, pra ter que entregar tanta coisa, mas a hora que você não pertence mais àquele ambiente, você sente falta.”. É exatamente isso. Aquele lugar me roubou de mim e me transformou, a pessoa que entrou naquele prédio há quase seis anos definitivamente não existe mais; hoje, quem saiu dali foi completamente outra.

Além de todos esses pensamentos subjetivos, as lembranças das transformações físicas e do quanto minha vida mudou ao longo dessa caminhada me faz sorrir mais uma vez, ao olhar para trás e perceber que eu entrei ali, ainda uma menina, apesar dos 20 anos, mas que saio uma mulher. Namorei, noivei, morei junto, separei, me mudei de cidade, me mudei até de país. Fui pra faculdade de ônibus, com a minha primeira moto, de carro emprestado, com a segunda moto, com o meu carro. Estudei de manhã, de noite, de manhã, de noite... Incansáveis trocas de horário porque eu trabalhava em shopping e precisava adequar a faculdade ao emprego.

Quantos trabalhos e relatórios foram preparados no meu horário de almoço ou então no computador do trabalho, meio que por debaixo dos panos, enquanto eu fazia malabarismo entre trabalhar, estudar e ter, um mínimo possível, de vida social. Quantos livros eu comprei e ainda não li porque não estavam na bibliografia do curso. Anos abrindo mão de tanta coisa, muitas vezes de mim mesma. Finais doem, mas olhar para trás e lembrar dos motivos que me trouxeram até aqui, da força, persistência e constância que precisei ter para chegar onde cheguei, me dá a certeza, pela milésima vez, de que tomei o caminho certo.

Um comentário:

  1. O último dia é sempre o primeiro. O primeiro é sempre o último. Assim como a sombra não existe sem luz e vice-versa. Assim como sua alegria misturada com tristeza.
    As coisas não acontecem em nossas vidas em uma ordem certa, uma após a outra... Normalmente a vida é um turbilhão de coisas acontecendo juntas e nos enlouquecendo. Seu término da faculdade não é só um término. É a realização de um sonho, é o término de uma rotina, é a possibilidade de trabalhar com o que ama, é a perda do contato rotineiro com os amigos, é o frio na espinha de assumir o manto de psicóloga, é o peso de não poder mais se refugiar sob a condição de estudante...

    Para cada vida que morre, uma nasce, para cada por do sol há um nascer da lua. Um começo é novo, empolgante, e, por vezes, assustador. O que esperar do que vem agora? Ninguém sabe ao certo. Isso se une ao turbilhão de encerrar um ciclo.

    Todo término é um começo.

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