sábado, 1 de outubro de 2011

Só minha e do mundo

Pra sair de casa era assim: uma calça jeans sem sal e sem açúcar, um moletom cinza, mochila nos ombros, cabelos amarrados em coque e o rosto completamente limpo, quem a via na rua não dava nem 20 anos de idade e pensava que era a moça mais linda e mais pura daquela cidade.

Depois de um ônibus e um pouco de caminhada ela chegava aqui em casa, soltava os cabelos, dava-me um beijo de tirar o fôlego e começava a reclamar, deixando escapar alguns palavrões, daquela avó chata, rabugenta e antiquada. Como se ela pudesse mandar em mim, não sei por que ainda a obedeço – dizia.


Ia ao banheiro com sua mochila e voltava de lá transformada, jogava a mochila na minha cama ao passar pelo meu quarto, e eu a via vindo como em câmera lenta: salto alto, tipo uns 15 centímetros, vestidinho preto e colado, deixando agora a mostra boa parte do corpo, alças de uma lingerie vermelha pouco a mostra, maquiagem carregada, 20 anos era o mínimo e quem a via pensava que ela, com certeza, era a moça mais disputada da cidade. Agora sim quem a visse enxergaria a minha menina como uma mulher… E que mulher.


Para onde ela ia daquele jeito não me importava, provavelmente fazer do seu corpo um trabalho. Não me importava nem se a chamassem de santa ou se a chamassem de puta, o que os outros viam era apenas o que os outros viam. Comigo eu sabia que além de menina e mulher, ela era minha e era de verdade.

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