quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A despeito de nós

"As coisas são e tudo floresce a despeito de nós."
Sete Vidas – Pitty

Estive com essa frase na cabeça há alguns dias, talvez não com a mesma interpretação que a Pitty quis trazer, mas como uma materialização em palavras de um emaranhado de pensamentos e sentimentos que ando tendo a respeito de fins, sejam de ciclos ou de relacionamentos.

Eu sou do time “deu certo enquanto tinha que dar” e não do time “perdi meu tempo”, pois acredito que o segundo grupo tende a sofrer mais com os finais, afinal, tudo de bom que existiu, automaticamente cai por terra e deixa de ter existido – o que para mim não faz sentido.

Exemplo: em minha cidade existiram construções que hoje não existem mais, mas elas estão guardadas em fotografias antigas que meus pais guardam ou em grupos do Facebook que guardam a memória da cidade; isso quer dizer que, por que não existem mais, nunca existiram? Não. Logo, quando as coisas acabam, elas não deixam de existir.

Assim como a morte. Ela por si só não apaga a existência daquele que partiu, por outro lado, quem ficou vai passar pelo luto. O luto existe para todas as mortes que enfrentamos, sejam elas literais ou não.

Andei pensando em tudo isso porque enfrento mais um fim, inevitavelmente; a vida é cheia desses momentos. Tento me acalentar pensando que isso já existiu e, então, ainda existe, mesmo que só em fotografias e dentro do meu coração, talvez não no coração de quem partiu, figurativamente, nesse caso.

E por que todo esse sentimento incômodo de perder alguém que se ama e esses pensamentos a respeito de que a relação continua existindo, em algum lugar desse Universo (mesmo que seja o meu Universo interno), me fizeram lembrar desse verso dessa música?

Porque, claro, as coisas são como eram e como sempre serão, pelo simples fato de um dia já terem sido; e são a despeito de nós, a despeito da vontade de acreditar que elas nunca foram, simplesmente porque deixaram de ser, no presente; a despeito do sentimento de perda de tempo ou de que tudo foi uma mentira. Um dia elas foram. E foram de verdade.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Notas

Releio o que escrevo com inveja e com pesar. Inveja de escrever tão bem quanto eu julgo ter escrito e pesar por saber que se não escrevo mais, não tenho nada além de mim mesma a culpar.

Eu comecei escrevendo para colocar tudo para fora, não me importava quem leria – ou se alguém leria. Depois, passei a publicar em um blog, com o simples intuito de ter meus textos organizados, de fácil acesso. Então surgiu a oportunidade de publicá-los em um livro, tão bem recebido e elogiado.

Depois disso, parecia o fim. Era como se eu já tivesse cumprido o propósito inicial. Mas, não seria ele o de apenas colocar tudo para fora? O livro me trouxe uma sensação de dever cumprido, mas ao mesmo tempo era como se me dissesse: "Ok, todo mundo já leu o que você quis dizer, e agora?". E eu não tinha resposta pra essa pergunta.

Agora mesmo, quando me surgiu a ideia desse texto, busquei por alguns segundos o aplicativo "Notas" em meu celular, que por anos foi meu melhor amigo. E, finalizando esse texto, me pego pensando que ele vai ficar esquecido nesse aplicativo ou, no máximo, organizado na pasta de crônicas em meu notebook. Não que alguém de fato acessasse aquele blog, mas que fim fúnebre para qualquer escrito, ser mantido preso pelo próprio autor, sem a menor possibilidade de ser lido.

Talvez só o que me falte é trazer novamente a possibilidade de alguém ler, nem que seja eu mesma, mas por fora dos meus próprios acessos pessoais, on-line.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Silêncio

Hoje eu decidi me calar, ou melhor, a minha voz me calou por mim – engraçado que, em dois dias, farei 29 anos e eu estou em um momento de introspecção, sem vontade de comemorar esse ano; foi quase como se meu corpo tivesse entendido o recado e falado: “Pode deixar, vou te deixar uns diazinhos sem voz e de cama.”. Sou grata por isso, então.

Geralmente em épocas de aniversários eu fico nostálgica, acho que todos ficamos, não? Mas esse ano parece que a coisa tá pegando firme aqui dentro. Porque foi um processo tão visível (para mim mesma, pelo menos) de transformação, dentro desses poucos anos que se deram dos 20 para cá, que hoje eu não reconheço aquela menina que eu fui.

Só que eu também sinto saudades dela – não por inteira, mas de alguns aspectos dela. Da doçura, misturada com loucura e inconsequência. Ela sentia tudo à flor da pele, eu não. Ela chorava, sentia raivas desmedidas e tristezas insuportáveis, eu não. Entretanto, ela não era tão feliz; hoje eu tenho crises de ansiedade de tanta alegria – chega a ser triste que minha alegria me desencadeie essa resposta, mas é a mais pura verdade, no fim das contas eu dou risada e abraço essa alegria.

Eu sinto falta das palavras dela na minha cabeça, da facilidade que ela tinha em fazer um texto incrível do absoluto nada, ela acordava no meio da noite com ideias de textos e os fazia em um piscar de olhos! Agora, além de eu demorar meses para conseguir ter a ideia de algum texto, quando os releio ao final da produção, sinto que estão todos meia boca – fazer o quê? Vai ver perdi o jeito da coisa, quando aquela loucura foi embora deve ter levado as inspirações junto.

Mas não me sinto mais tão triste em não escrever tanto. Em algum momento, há muitos anos, aquela menina me falou o seguinte: “Você não precisa escrever tudo, pois tudo já está escrito.”. E eu fiquei em paz com isso. Não é meu papel fazer descobertas revolucionárias ou escrever os textos mais incríveis a serem lidos, eu posso me aposentar ou então continuar de forma medíocre, fica a meu critério.

Como as escritas sempre foram mais para mim do que para você – que me acompanhou aqui por tantos anos e hoje já nem lembra que eu escrevia – eu sigo escrevendo, de tempos em tempos, com a qualidade cada vez mais duvidosa, agradecendo aquela menina de 20 anos por ter me trazido até aqui de uma forma tão intensa e pura – para ela, todo o meu amor.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Rato na roda

Querendo voltar para uma jornada fitness, enquanto estava na academia, pensei que tudo na nossa vida é um ciclo de repetições, quase como se fôssemos o rato na roda: acordar, comer, trabalhar, se movimentar, cuidar de si, dormir, e repetir, dia após dia.

Quase como se estivéssemos ensaiando para uma apresentação de ballet, onde ficamos repetindo os movimentos metodicamente, para atingir a perfeição. Ensaios, dia após dia, para uma execução de maestria.

Lembrei que fazia muito tempo que não escrevia, me perguntei: será que ainda levo jeito pra isso? E conclui que, possivelmente, não. Esse músculo está enferrujado. Enquanto, anos atrás, tudo me trazia motivos para escrever, hoje tenho dificuldade em organizar um pensamento.

Então, quer dizer que para que sejamos bons em qualquer coisa que seja, precisamos nos permitir estar naquela roda: repete e repete. Quando nos damos por vencidos por alguma coisa e deixamos aquilo de lado, possivelmente essa engrenagem ficará enferrujada e cairá em desuso.

Mas, qual o sentido, então, de fazer tudo para depois fazer de novo e de novo? Bom, essa resposta eu não posso te trazer com certeza. Mas arrisco em dizer que provavelmente é para que possamos melhorar e evoluir sempre.

A vida se dá pelo movimento, a evolução ser dá pela execução. E quanto mais fazemos alguma coisa, dia após dia, semana a pós semana, mês após mês, ano após ano, mais estaremos adaptados para executar aquela tarefa com maestria, com naturalidade e familiaridade.

No mais, dentro desse ciclo de repetições, podemos nos permitir admirar toda e qualquer mudança, singela, mas significativa, pois são essas pequenas nuances que nos mostram que, de fato, não faz parte de um repetir, mas sim de um viver o novo constantemente. Mesmas ações, mas nem sempre o mesmo resultado, muito pelo contrário: a cada dia a vida se mostra a nós como um presente a ser desembrulhado e admirado, nos seus menores detalhes.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Behavorista desde criança

Costumo brincar, dizendo que sou Behavorista desde criança, mas percebo o quanto de verdade existe nisso. Lembro que, desde muito nova, sempre gostei de reparar nas pessoas ao meu redor, no comportamento delas, na interação entre elas. Sou uma pessoa extremamente extrovertida, porém, às vezes gosto de ficar de canto, observando.

Quando adolescente, reparava nas pessoas na rua, morria de medo de acabar sendo mal interpretada e que alguém viesse discutir comigo, ou que gritassem: “Tá olhando o que?”. Já imaginava minha possível resposta: “Estou olhando, porque te achei bonito(a).”, só pra ver a pessoa ficar sem graça e, também, poder alegrar o dia de alguém, mas isso nunca aconteceu (ainda bem).

Mais velha, saindo para bares e baladas com meus amigos, sempre me percebia olhando meus amigos, admirada, enquanto eles interagiam entre si; olhando para as pessoas dançando, flertando, conversando. A sensação de ser expectadora e de ficar me perguntando porque cada um age e reage de tal forma diante de cada situação, sempre foi meu passatempo favorito.

Muito se sabe que somos seres sociais, que precisamos de pessoas para viver bem, que passamos grande parte dos nossos dias pensando sobre outros seres humanos. Além de pensar sobre pessoas, sempre pensei no comportamento delas; sempre tive curiosidade de perguntar o que se passa na cabeça de pessoas que vejo na rua, algumas alegres, outras mal humoradas.

Meu grande amor é também meu objeto de estudo, agora. Sou fascinada pelo ser humano e mais ainda pelas suas maneiras de se comportar, por isso afirmo: eu já era Behavorista antes de ser; já era analista do comportamento desde antes mesmo sonhar que a Psicologia existia e que ela me encontraria. Meu amor pelo Behavorismo chegou logo no primeiro semestre, me encontrei com a pessoa que eu estava predestinada a vir a ser.