Hoje eu decidi me calar, ou melhor, a minha voz me calou por mim – engraçado que, em dois dias, farei 29 anos e eu estou em um momento de introspecção, sem vontade de comemorar esse ano; foi quase como se meu corpo tivesse entendido o recado e falado: “Pode deixar, vou te deixar uns diazinhos sem voz e de cama.”. Sou grata por isso, então.
Geralmente
em épocas de aniversários eu fico nostálgica, acho que todos ficamos, não? Mas esse
ano parece que a coisa tá pegando firme aqui dentro. Porque foi um processo tão
visível (para mim mesma, pelo menos) de transformação, dentro desses poucos
anos que se deram dos 20 para cá, que hoje eu não reconheço aquela menina que
eu fui.
Só que eu também
sinto saudades dela – não por inteira, mas de alguns aspectos dela. Da doçura,
misturada com loucura e inconsequência. Ela sentia tudo à flor da pele, eu não.
Ela chorava, sentia raivas desmedidas e tristezas insuportáveis, eu não. Entretanto,
ela não era tão feliz; hoje eu tenho crises de ansiedade de tanta alegria –
chega a ser triste que minha alegria me desencadeie essa resposta, mas é a mais
pura verdade, no fim das contas eu dou risada e abraço essa alegria.
Eu sinto
falta das palavras dela na minha cabeça, da facilidade que ela tinha em fazer um
texto incrível do absoluto nada, ela acordava no meio da noite com ideias de
textos e os fazia em um piscar de olhos! Agora, além de eu demorar meses para
conseguir ter a ideia de algum texto, quando os releio ao final da produção,
sinto que estão todos meia boca – fazer o quê? Vai ver perdi o jeito da coisa,
quando aquela loucura foi embora deve ter levado as inspirações junto.
Mas não me
sinto mais tão triste em não escrever tanto. Em algum momento, há muitos anos,
aquela menina me falou o seguinte: “Você não precisa escrever tudo, pois tudo
já está escrito.”. E eu fiquei em paz com isso. Não é meu papel fazer
descobertas revolucionárias ou escrever os textos mais incríveis a serem lidos,
eu posso me aposentar ou então continuar de forma medíocre, fica a meu
critério.
Como as
escritas sempre foram mais para mim do que para você – que me acompanhou aqui
por tantos anos e hoje já nem lembra que eu escrevia – eu sigo escrevendo, de
tempos em tempos, com a qualidade cada vez mais duvidosa, agradecendo aquela
menina de 20 anos por ter me trazido até aqui de uma forma tão intensa e pura –
para ela, todo o meu amor.