É difícil começar sabendo que dessa vez o tema não é amor,
quer dizer, talvez seja, no final das contas, mas não o amor que costumava
descrever. Porque, amor não é só amar alguém, por que não alguma coisa? Ou
tudo. Quer dizer, não preciso estar apaixonada para amar, assim como não
preciso amar para estar apaixonada. Paixão vira amor, amor que é amor não
acaba, será? Porque, se não cuidarmos das rosas, elas morrerão, mas não quer
dizer que nunca foram rosas, compreende? Quer dizer, pode ter sido amor um dia,
mas se não foi cuidado, murchou.
Então vem aquele processo de reaprender, reamar, sozinho,
mas não alguém, alguma coisa, tudo. Se amar, amar até a segunda-feira,
pobrezinha, amar o frio que os solitários desprezam, mas que pode ser uma ótima
companhia, amar até o cigarro, mesmo que te faça mal, amar o mundo, mesmo que
ele não seja lá aquelas coisas. Amar o vizinho, amar o próximo, lembra?
Ocupar a mente... Não pensar em nada, ao mesmo tempo que se
pensa em tudo, dizer nada, como estou fazendo agora. Só enrolar e enrolar para
preencher um vazio que você nem sabe mais onde está. Por que vazio? Por que
todo mundo tem ou diz ter esse maldito vazio? Penso eu que seja falta de Deus,
mas pra tanta gente, quem é Deus nesse mundão todo? Mas te digo, Deus é tudo.
Porque esse vazio maldito só aparece quando ele não está. Sim, eu afirmo,
ninguém está plenamente satisfeito, nem eu, eu confesso.
Dinheiro? Tenho pouco, quero mais. Casamento? Nossa, que
falta de sexo! Felicidade? Que nada, preciso de mais. Trabalho? Quero mais que
meu chefe, aquele... Se exploda! Carreira? Trabalho e trabalho sem ser
reconhecido. Minha casa? Uma porcaria. E por aí vai, você sabe bem como é.
Vamos fazer assim, se você parar eu também paro, quer dizer,
de reclamar, de dizer e não dizer, de viver sem ser feliz, de existir sem ter
porquê. Que mal há em ver beleza onde não tem? De se apaixonar logo de cara,
depois quebrar a cara, acontece. Que mal há em achar lindo um dia de chuva, ou
de olhar esses pássaros que a gente vê todos os dias, mas nunca vê beleza e,
por ironia, achá-los bonitos, pelo menos dessa vez. Se você acordar dizendo
como o dia está lindo, não importa o quão fechado ele esteja, juro que vou
tentar mudar também, vou parar de dizer só por dizer, de pensar sem ter no que.
Porque, uma vez ouvi que sem você a humanidade jamais seria
a mesma, imagina só se todos acreditassem nisso? Se todos fizessem por onde, se
ninguém se acomodasse, ah, que maravilha seria o mundo! Em vez de, de vez em
quando, sair para beber ou escrever um monte de coisa sem sentido... Como se,
não escrevendo você acabasse morrendo. Entende? Sei que entende, você sabe, pra
mim, se não escrever não tem graça, mas agora me vejo em uma sinuca de bico,
falei tanto sem ter nada a dizer que não sei como parar. Quis dizer a você:
seja feliz. Mas eu não sou, ainda.
Eu te prometo, eu me prometo, amanhã, mesmo que o mundo
esteja caindo aos pedaços, será o dia mais lindo e será como se fosse o último,
amanhã e todos os dias... Farei por onde para não ser apenas mais um corpo no
espaço.
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