Começa antes mesmo da mulher saber, sonhar ou imaginar
que um dia terá um filho. Aos quinze ela é extremamente nova e não pode
engravidar, afinal, fica feio, né? Aos dezoito ela não tem maturidade o
suficiente, é bom terminar o ensino superior primeiro, se não como irá manter o
filho? Aos vinte e cinco ela está com a maturidade, carreira e corpo perfeitos,
mas o filho não vem. Aos trinta as pessoas a pressionam, pois o relógio biológico
não perdoa: é agora ou nunca.
Então, no momento em que ela descobre a gravidez, seja
aos quinze, dezoito, vinte e cinco ou trinta, ela ouve nove meses de infinitos
conselhos. Também aprende que amor de mãe é o maior e melhor que existe; que o
dia que conhecer seu filho será sem dúvida o melhor dia de sua vida, que ela se
sentirá realizada, e que será o dia em que ela irá descobrir para quê veio ao
mundo. Aqueles sonhos profissionais e pessoais? Imagina! Nem se comparam com a
alegria de um pequeno chegando, todo dela.
Aí os nove meses começam a passar. Seus peitos incham e começam
a doer, ela já não pode usar seu perfume preferido, senão, é vômito na certa. Ela
começa a planejar uma vida inteira na cabeça dela, para uma criança que talvez
ela ainda nem saiba o sexo. De repente: ansiedade! Pensou demais no que não
devia e precisa se distrair. Então usa os últimos resquícios de egoísmo para
pensar nela mesma e é quando percebe o quão limitada ela estará dali em diante,
porque deverá se dedicar integralmente àquele ser indefeso que está ali,
ansioso para conhecê-la. Subitamente, pensar em seu próprio futuro não a fez
feliz também.
Depois de nove meses, o primeiro pecado acontece: o filho
nasce e então, só por um segundo, ela pensa em si própria (que a essa altura
fora completamente esquecida pelo pai da criança, os amigos e familiares e o
pior de tudo, por ela mesma). Olha-se no espelho e se sente a criatura mais
horrível na face da Terra. No próximo segundo ela se foca no filho e o pecado some,
afinal ela está segurando a criatura mais linda da face da Terra, dois extremos
que se compensam.
Ainda assim mais tarde aquela mesma mãe, principalmente
aquela que tinha outros sonhos antes da maternidade, se pergunta: “Por que é
que não sinto todo aquele amor e alegria instantâneos que tantas mães que sempre
sonharam com isso me falaram?” Porque, inegavelmente, há um romance quase de
conto de fadas em cima desse ato, onde se acredita que só amar basta,
esquece-se da maturidade necessária, de todos os contras; as pessoas só falam
dos prós na hora de contar a história, pois ninguém quer desanimar ou
desencorajar a mais nova mamãe do pedaço. Afinal, os desprazeres ela vai
descobrir por si só.
Eis que ela começa a descobrir todas as batalhas diárias
que uma mãe enfrenta, onde, com o passar do tempo, o amor por aquele pequeno se
torna realmente imensurável e ela entende que esse amor existe sim, mas não é instantâneo
para ficar pronto em três minutos. Esse amor e essa relação são construídos
como qualquer outra relação no mundo, a diferença é que a conexão da mãe com
seu filho é muito mais sensível que as demais, até mesmo que o retorno do seu
filho por ela. E ela sabe disso. Ela sabe que ela morreria por ele e que talvez
daqui a oitenta anos ele a abandone num asilo, pois perdeu a paciência com aquela
velha senhora. Mas isso não a impede de pressentir um mau acontecimento e
salvar seu filho antes mesmo do incidente.
Acontece que ela aprende, dia após dia, que as alegrias e
tristezas, felicidades e dificuldades desse papel, dessa tarefa desempenhada
sem férias nem horário de almoço, estão fortemente ligadas. Nenhuma mãe é
obrigada a ser a melhor amiga do seu filho, mas é preferível que assim seja. E como
melhor amiga ela pode se sentir de saco cheio vez ou outra, ela pode sentir
vontade de ouvir música no volume máximo, como fazia antigamente, ou passar um
final de semana sozinha na praia. Ser mãe é uma condição que vai durar o resto
da vida dessa mulher, mas não é a única. Ela é mãe, professora, advogada, dona
de casa, atriz, compositora, escritora, funkeira e o que mais ela quiser. Acontece
que se somar todas as alegrias que ela tem em todas essas outras condições e
comparar com as alegrias que ela tem com aquele filho, ele ganha de estourar o
placar. Por isso ela aceita se machucar em tantos espinhos nesse longo caminho,
pois o sorriso desse ser é a rosa mais bonita de seu jardim.
Nota sobre o texto: Como ainda não sou mãe, não me senti
no direito de fazê-lo sem ajuda de uma, por mais que tudo isso seja baseado em
conversas mais íntimas que participei e ouvi entre mães, conversei com uma
grande amiga, Ana Carolina, mãe da Alice mais doce que conheço, para que eu
pudesse escrevê-lo com mais entendimento do assunto.
Lindo. Amei. É isso mesmo, parabéns ;)
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